O novo ensino médio, apresentado como uma novidade no Brasil, traz práticas já consolidadas internacionalmente em países como Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Suíça, Finlândia e Coreia do Sul. As escolas internacionais em funcionamento no Brasil, ainda que respeitando as normas brasileiras vigentes, já saíram na frente e, em geral, estão mais bem preparadas para esse novo desafio.
Há décadas educadores que trabalham nos ensinos médio e superior, alunos e familiares já constataram a inadequação de uma sala de aula transmissora de conhecimentos, armazenados em memória de curto prazo, mas que carecem de aplicação e significado. Espera-se que, ao entrar em uma universidade, o aluno seja autônomo e integre saberes e competências.
No entanto, o estudante da escola padrão do sistema brasileiro raramente contou com um ambiente favorável para exercer autonomia ou pensar criticamente. Isso porque precisava estudar apenas para tirar nota acima da média e depois passar no vestibular, Enem e similares.
Eis que as definições do Conselho Nacional de Educação em 2017 começam, finalmente, a ser implementadas e passam a ser obrigatórias neste ano em todo o país, inclusive com a definição de mudança do Enem a partir de 2024, que passa a contar com uma etapa específica com questões discursivas na área de escolha do aluno.
Foram os modelos internacionais já citados que inspiraram (ainda que tardiamente) nossos órgãos reguladores a avançar. A partir de agora, a carga horária mínima foi aumentada de quatro para cinco horas por dia. As disciplinas comuns a todos os alunos corresponderão a 60% dessa carga e os 40% restantes passam a ser dedicados aos itinerários formativos, que serão disciplinas escolhidas pelos alunos.
Assim, um aluno de uma determinada série poderá estudar mercado financeiro enquanto seu colega de sala estará em uma aula aprendendo sobre mídias digitais. Há, ainda, o “projeto de vida”, que constitui um componente curricular muito semelhante às aulas de advisory ou sessões de college/career counseling nas escolas americanas em que um professor ou orientador ajudam o aluno em relação às suas aspirações para a universidade e carreira.
Toda mudança gera oportunidades e demandas. No caso do novo ensino médio no Brasil, as oportunidades são claras: o aluno passa a ter mais autoria e flexibilidade em seu currículo. Pode, assim, garantir a base essencial que todo estudante precisa nos anos que antecedem sua entrada na universidade ou no mercado de trabalho.
Ao mesmo tempo, ele mesmo constrói e testa suas escolhas em um momento da vida em que os riscos são, por natureza da faixa etária, mais baixos. No campo das demandas, há que se garantir uma mudança de fato e não adaptações do antigo e obsoleto modelo ao novo, que além de novo por determinação da lei, deve ser inovador para nosso país.
As instituições de ensino devem evitar o risco, principalmente para conseguirem encaixar massas de públicos distintos em diferentes contextos em nível nacional, de maquiar e chamar de itinerário ou eletivo algo praticado há anos em formato tradicional e sem respeitar as características individuais e coletivas de um público-alvo.
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Diante disso, nós educadores (pais e professores), estamos com uma enorme janela de oportunidades para avançarmos de forma consistente e sustentável rumo a uma educação de nível médio significativa e relevante, com qualidade e aprendizagens reais. Subir alguns degraus nessa escala evolutiva vai exigir capacitação técnica, coragem, coordenação e muito diálogo com aqueles que ocupam, ou deveriam ocupar, a centralidade de todas as ações de uma escola: os alunos.
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