Duas coisas que sabemos na vida: vamos envelhecer e morrer.
O envelhecimento está conosco desde o nascimento, afinal, a partir do momento em que somos concebidos estamos em transformação, deixando de lado alguns aspectos biológicos que podem ser substituídos por outros ou simplesmente deixarem de existir com o tempo.
Todavia, a maioria das pessoas não tem essa percepção e acreditam que o envelhecimento tem relação com uma idade cronológica, inclusive determinando em leis (como o Estatuto do Idoso - 60 anos) e constituindo normas sociais específicas para pessoas dessas idades! Afinal, quem nunca viu ou ouviu a frase “nossa, nem tem mais idade para isso”.
Em 1969, o gerontologista Robert Butler criou o termo “ageism” que reflete a intolerância relacionada a idade. Em 1999, Palmore ampliou o termo para etarismo, quando há preconceito ou discriminação contra ou a favor de um grupo etário.
No último Globo de Ouro, a atriz Jennifer Coolidge, da série The White Lotus, ao ganhar como melhor atriz coadjuvante fez um discurso emocionante, ovacionando o criador da Mike White por ter-lhe ofertado o papel e acreditado em seu potencial “mesmo tendo 61 anos” de idade.
O ícone internacional Madonna é uma das celebridades que há anos luta contra o etarismo! Autêntica desde sempre, a cantora não deixa de falar o que quer, usar o que quer e conquistar o que quer, porém em entrevista ao The Tonight Show com Jimmy Fallon falou que mesmo sendo rica não deixa de sofrer críticas por sua idade e a forma com a qual decidiu vivê-la.
No Brasil, artistas como a eterna Elza Soares já gritavam por aí que a idade não a limitava em nada e que a sua força e sabedoria vinham de suas experiências de vida! Ainda em solo brasileiro como não falar de Dercy Gonçalves eternizada em suas falas desbocadas e sábias!
O etarismo não só é apresentado em violências verbais ou morais, o etarismo também manifesta-se dentro das instituições, principalmente as econômicas que envolvem a lógica do trabalho.
Atualmente, o Brasil possui uma população acima de 50 anos de 26% e a participação desse grupo no mercado de trabalho é de apenas 10%, na maioria das empresas. Os profissionais considerados maduros ou experientes acabam por sendo entendidos como estáticos e sem a habilidade de adaptação às tecnologias que não param de aparecer.
Projetos que falam sobre inclusão de pessoas com melhor idade no mercado do trabalho estão sendo disseminados em mais espaços institucionais, e o tema diversidade geracional vem ganhando empresas socialmente responsáveis. Tais empresas veem que a troca entre gerações traz benefícios incríveis ao desenvolvimento. Um filme interessante sobre tema é "O estagiário", com Robert de Niro e Anne Hathaway.
No Brasil, o projeto de lei (PL) 3467/2021 da deputada federal Lidice da Mata busca instituir o dia do combate ao etarismo. Em sua justificativa, o projeto argumenta que de acordo com a OMS “cada duas pessoas no mundo tem atitudes discriminatórias com relação a pessoas idosas e que tais atitudes pioram a saúde física e mental dos idosos, reduzindo sua qualidade de vida". Ainda de acordo com a OMS, a discriminação por idade se infiltra em muitas instituições e setores da sociedade, incluindo aqueles que fornecem assistência médica e social, no local de trabalho, na mídia e no sistema jurídico.
O fato é que o envelhecer faz parte da vida, mas saber envelhecer faz parte de nós como indivíduos e da sociedade como inclusiva e entendedora de que a troca de gerações é o caminho para uma qualidade de vivência.
Um samba composto por Xande de Pilares chamado Moleque Atrevido traz em sua composição destinada a história do samba a seguinte frase: “respeite quem pode chegar onde a gente chegou”.
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