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É arquiteta e urbanista, professora da Ufes e vice-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil/ES

O que explica o abandono imobiliário do Centro de Vitória?

Esse processo de abandono acontece em detrimento da valorização econômica de outras áreas, como a Praia do Canto e a Enseada do Suá

  • Luciene Pessotti É arquiteta e urbanista, professora da Ufes e vice-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil/ES
Publicado em 11/06/2024 às 13h55

No Brasil, existem 11,4 milhões de casas e apartamentos vazios, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A proporção aumentou comparada ao censo anterior: em 2010, eram 9 a cada 100. Ou seja, a cada 100 domicílios particulares no Brasil, 13 estão vagos.

Apesar de ser uma das capitais do Brasil menos populosas do país, Vitória não foge do padrão observado. Segundo a Associação dos Moradores do Centro de Vitória (Amacentro), em 2023 haviam mais de 300 imóveis abandonados. O Crea-ES, por sua vez, registrou em um período de três meses 383 notificações apenas na região central de Vitória.

Essa espécie de processo de abandono acontece em detrimento da valorização econômica de outras áreas, como a Praia do Canto e a Enseada do Suá, o que provoca a crescente desvalorização da área central da capital. Essa diferenciação socioeconômica das áreas da cidade ocasiona, em geral, desigualdades socioespaciais.

Desta forma, a área do Centro de Vitória teve o valor dos imóveis reduzido em função da valorização das áreas da expansão da Capital, o que provocou o crescente esvaziamento da região. Esse processo resultou, portanto, na criação de novas centralidades.

Em geral cabe à gestão municipal investir nas melhorias das áreas urbanas, no que tange a infraestrutura, mobilidade e manutenção de áreas públicas. Isso porque com o incremento do valor do solo urbano nas áreas de expansão ocorre o fenômeno inverso nas áreas mais antigas, como é o Centro de Vitória. Ou seja, têm-se a desvalorização do valor dos imóveis que provoca o esvaziamento do local.

Nesse processo de esvaziamento das áreas urbanas centrais, em especial os sítios históricos, observa-se que as novas gerações optam por morar nas áreas mais novas da cidade. Observa-se que após o fechamento das lojas, restaurantes, bares e das atividades de prestação de serviços há um esvaziamento no centro. Tal fenômeno propicia a violência urbana e desestimula o uso do local.

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Avenida Princesa Isabel, Centro de Vitória. Crédito: Fernando Madeira

O uso sistemático do Centro da Capital pode ser estimulado ainda com a valorização dos espaços culturais e históricos, afirmando o valor simbólico do lugar. Para além disso, a utilização dos imóveis abandonados ou fechados no Centro de Vitória contribui com a solução do déficit habitacional da capital.

Os imóveis desocupados, em geral, que não recebem intervenções de manutenção e conservação, com o decorrer do tempo, a ausência dessas intervenções pode comprometer as instalações prediais e sua estrutura. Nesse sentido, há risco de perdas importantes de partes do edifício, como, marquises, janelas e o risco de desabamento do próprio imóvel. Ainda, a falta de manutenção da rede elétrica pode ocasionar incêndios. Além disso, a degradação das partes das coberturas dos imóveis acarreta em infiltrações que são umas das principais causas de degradação dos edifícios.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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