As fortes chuvas e por consequência as cheias dos rios que percorrem o Espírito Santo são bastante conhecidas por gerações. Ainda adolescente, lembro das cheias de 1979 que atingiram todo o Norte capixaba, isolando cidades e causando transtornos até então inimagináveis. Também nos lembramos das cheias do Rio Itapemirim, com alagamentos nos municípios e nas cidades de Cachoeiro e de Itapemirim.
Nos períodos de chuvas intensas e enchentes, na maioria dos casos somos postos à prova sob cenários de desolação e de perdas. A enchente ocorrida em Iconha em 2020 apresentou um cenário de devastação de grandes proporções, muitas mortes e o caos generalizado. Os alagamentos sazonais em Viana, Vila Velha, Itaguaçu, Santa Leopoldina, Fundão e Venda Nova evidenciam para todos nós a necessidade urgente de ações governamentais que possam minimizar os efeitos catastróficos das cheias.
Os cuidados e o monitoramento da Defesa Civil são de suma importância, mas o cerne da questão é a prevenção. Mais do que nunca é necessário criar cenários em IA da conformação geográfica e planialtimétrica do Espírito Santo e sua relação com os leitos dos rios e represas. Temos exemplos bem-sucedidos de ações de controle que visam conter ou mesmo minimizar os efeitos das enchentes.
Desde os reservatórios, como lagos de captação do Rio Sena, até a criação dos parques alagáveis em Curitiba. São inúmeras intervenções já implantadas que através do planejamento territorial criaram bacias de captação com volume de armazenamento capaz de absorver em grande parte a contribuição dos rios em suas cheias, minimizando por fim o efeito indesejado das enchentes.
Enfim, tratamos aqui de projetos e obras de macrodrenagem que tem por objetivo aumentar a capacidade de extravasamento de rios e córregos. Esse trabalho de reter a contribuição de grandes precipitações também reforça a importância ambiental, seja na drenagem natural da água para o lençol freático, seja na preservação de núcleos e parques lineares de preservação da flora e fauna. Esses corredores precisam ser estudados e viabilizados em nível estadual.

Outras ações são necessárias em nível municipal, mas a análise do controle das contribuições pluviais sobre os leitos d’água precisa ser encarado como uma política de Estado. Esse diagnóstico se inicia pela mensuração do assoreamento dos rios, pela contribuição dos córregos, pela ocupação urbana e a identificação das áreas de risco. Faz-se urgente a criação de cinturões verdes, que possam ser criados em pequenas propriedades e distribuídos conforme cada aspecto local e regional.
O atendimento às calamidades será cada vez mais custoso, teremos mais perdas a cada enchente e em determinado momento a reconstrução será cada vez mais onerosa. No cenário das catástrofes, a criação de áreas alagáveis e a construção de diques poderiam reduzir por certo os efeitos da tragédia de Mariana sobre os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Essa é a realidade.
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