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É presidente do Sindicato dos Bares e Restaurantes do ES / Associação Brasileira de Bares e Restaurantes

O terror do aumento do preço dos alimentos e o impacto para os brasileiros

Preços elevados do consumo alimentar tornam cada dia mais difícil manter uma qualidade mínima para as compras do lar

  • Rodrigo Vervloet É presidente do Sindicato dos Bares e Restaurantes do ES / Associação Brasileira de Bares e Restaurantes
Publicado em 28/06/2024 às 14h00

Em um recorte de dez anos, pudemos perceber claramente que o poder de compra do brasileiro caiu substancialmente. Um exemplo dessa mudança são os preços elevados do consumo alimentar, tornando cada dia mais difícil manter uma qualidade mínima para as compras do lar, sejam estas feitas em feiras ou mercados.

Hoje, um brasileiro com rendimento médio de três mil reais precisa gastar um quinto do valor para pagar o custo destes alimentos básicos. Em uma década, o valor da cesta básica mais do que dobrou, passou de R$ 330 para R$ 770. Há dez anos, com R$ 100 era possível comprar um pouco mais dos dez produtos básicos. Atualmente, esse mesmo valor não cobre nem a metade das mercadorias.

Apesar da inflação dos alimentos consumidos fora do lar demonstrar ser significativamente menor já em 2024 do que a dos alimentos consumidos dentro do domicílio, ainda com o movimento abaixo dos níveis registrados em 2023, os bares e restaurantes evitam aumentar o cardápio, trabalhando com margens ainda menores. Os alimentos e bebidas, principais insumos dos bares e restaurantes, registraram um aumento de 0,70% em abril, acumulando uma alta de 3,59% nos primeiros quatro meses do ano.

Os bares e restaurantes estão adotando uma estratégia cautelosa em relação ao repasse de preços, numa tentativa de manter sua clientela em meio a esse cenário de baixa no movimento. Com essa tentativa de reverter a situação, estes estabelecimentos se encontram com margens de lucro extremamente apertadas. É urgente que os empresários do setor busquem um aumento de produtividade em suas operações.

Mas a preocupação central com o preço dos alimentos transpassa os limites do setor da alimentação fora do lar. Os alimentos, sendo naturalmente itens de subsistência, são mundialmente tratados de forma muito sensível em países desenvolvidos, preocupação que não se vê presente aqui. Os preços das feiras e supermercados sobem alvoroçadamente sem que se crie sequer um debate popular a respeito, sendo totalmente alheio à população sequer a causa do reajuste. Para se ter um exemplo, hoje na França, onde se debate a formação de um novo parlamento, uma das únicas pautas que são comuns para direita e para a esquerda, é o controle do preço dos alimentos.

De fato, esta preocupação deve ser sim cerne do debate público brasileiro, até mesmo porque é algo que afeta toda a cadeia inflacionária, sem entrar no mérito da dignidade da pessoa humana em ter uma alimentação digna, sem comprometer sua subsistência. Comida de qualidade precisa ser algo de acesso geral, que todos consigam consumir. Precisam ser traçadas estratégias que proporcionem que alimentos básicos, como o arroz, vegetais e proteínas não tenham seus valores abalados e encarecidos em detrimento de uma variável, como por exemplo, fortes chuvas. É preciso compreender que o alimento é algo vital, essencial para a vida humana, não uma escolha ou um luxo.

O enfoque neste debate tem que ser urgente, até mesmo por termos uma janela de oportunidades, que é a reforma tributária. Neste momento discutem-se diversas formas de tributação para os mais variados setores, sem que tenhamos como preocupação central o que mais demanda a desoneração neste país, os alimentos. Isto porque, como dito, refletem em todos os demais setores, seja por subsistência ou por pressão inflacionária. Certo é que temos que ter um país em que as pessoas tenham acesso não apenas à cesta básica, mas a uma alimentação ampla e barata. Até mesmo por sermos o maior produtor de alimentos do mundo, o brasileiro precisa comer bem!

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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