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É advogado especialista em Direito Constitucional

Onde está a Ordem dos Advogados, da qual já tivemos tanto orgulho?

Hoje, as prerrogativas dos advogados são violadas sem a menor cerimônia, nossas vozes são caladas com argumentos absolutamente infundados, são impostos segredos para processos e atos que deveriam ser públicos

  • Luiz Otávio Coelho É advogado especialista em Direito Constitucional
Publicado em 22/08/2024 às 17h31

É muito comum escutarmos dos mais idosos afirmativas no sentido de comparar as atitudes das pessoas no momento atual com o comportamento adotado em outros tempos diante das mesmas situações. Uma delas é: “No meu tempo, o compromisso era o fio do bigode”, indicando que, antes, as pessoas levavam mais a sério os compromissos que assumiam.

Vai da percepção de cada um julgar se essa afirmativa é verdade ou não. Ao que me parece, sim, as pessoas já não assumem os compromissos com a palavra dada, nem mesmo quando, publicamente, juram cumprir determinada tarefa em favor e benefício de outros.

Ganha relevo a comparação quando verificamos que, ao assumirem cargos públicos, os agentes políticos repetem um juramento, comprometendo-se com a defesa e com o cumprimento da Constituição e das leis. De forma semelhante ocorre com os profissionais, que, ao concluírem suas graduações, juram uma atuação correta e a utilização do conhecimento em favor da sociedade. Em ambos os casos, uns e outros apenas buscam se beneficiar, esquecendo-se do juramento feito.

Para ficar na seara doméstica, nós advogados juramos ao menos em duas oportunidades. Uma delas é na conclusão da graduação, quando nos comprometemos a atuar com ética, dedicação, esforço e competência, e a segunda é perante a Ordem dos Advogados do Brasil, quando prometemos “...exercer a advocacia com dignidade e independência, observar a ética, os deveres e prerrogativas profissionais e defender a Constituição, a ordem jurídica do Estado Democrático, os direitos humanos, a justiça social, a boa aplicação das leis, a rápida administração da justiça e o aperfeiçoamento da cultura e das instituições jurídicas”.

O que se extrai dos juramentos é um compromisso com a sociedade e com os valores sociais, a ordem jurídica, a democracia, os direitos humanos, a justiça social o aperfeiçoamento cultural e as instituições jurídicas.

É extremamente constrangedor, portanto, para dizer o mínimo, verificar que a organização que nos representa e que toma nosso juramento, detendo por isso mesmo o dever de zelar pela sua observação, por covardia ou por interesses outros, cai de joelhos em silêncio diante de todas e tamanhas violações contra o sistema normativo e as garantias legais, permitindo, inclusive, ser alvo de chacota por parte dos usurpadores do poder.

Fachada da OAB localizada no Centro de Vitória
Fachada da OAB localizada no Centro de Vitória. Crédito: Ricardo Medeiros

Quando percorremos o quadrante histórico não muito distante contra o qual a sociedade tanto lutou, com a participação decisiva de nobres e altivos advogados, e comparamos com a passividade da Ordem dos Advogados diante do quadro atual de absoluta violação de todos os direitos que juramos defender, voltamos os olhos para o passado e pensamos “no meu tempo...”.

Hoje, os direitos que juramos defender são violados por outros tantos que, da mesma forma, também os juraram. Hoje, as prerrogativas dos advogados são violadas sem a menor cerimônia, nossas vozes são caladas com argumentos absolutamente infundados, são impostos segredos para processos e atos que deveriam ser públicos.

Onde está a Ordem dos Advogados, da qual já tivemos tanto orgulho? O que fizemos com os juramentos e com os compromissos assumidos? Seriam juras de perjuros ou sinais dos tempos?

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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