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É pároco da Paróquia Santa Teresa de Calcutá e Vigário para Ação Social, Política e Ecumênica da Arquidiocese de Vitória

Papa Francisco levou para o Vaticano experiência que surgiu no ES

Hoje a humanidade está se sentido só, impactada pela morte de Francisco. Mas nosso sentimento de orfandade será superado porque, como nos recordou o papa, somos Peregrinos de Esperança

  • Kelder José Brandão Figueira É pároco da Paróquia Santa Teresa de Calcutá e Vigário para Ação Social, Política e Ecumênica da Arquidiocese de Vitória
Publicado em 21/04/2025 às 11h47
Papa Francisco realiza celebração diante da imensa praça vazia de São Pedro, no Vaticano, nesta sexta-feira, 27.
Papa Francisco realiza celebração diante da imensa praça vazia de São Pedro, no Vaticano, nesta sexta-feira, 27. . Crédito: Vaticano

Os oito dias seguintes ao Domingo da Páscoa são celebrados pela Igreja Católica como uma extensão do Domingo da Ressurreição. É a Oitava da Páscoa, quando recordamos a Vitória de Cristo sobre a morte.

É nesse contexto que morre o Papa Francisco, o papa que surpreendeu a Igreja — ao quebrar a tradição secular da congregação dos Jesuítas aceitando o pontificado — e o mundo, ao escolher o nome de Francisco, o primeiro em dois mil anos, associando-se ao santo dos pobres e da ecologia.

Despojado, Francisco recusou o uso das alfaias medievais. Fez a primeira aparição pública usando uma simples batina branca, veste própria do papado, e pediu que o povo rezasse por ele e o abençoasse, em um gesto explícito de como seria o seu pontificado e do rumo que daria à Igreja como Bispo de Roma e sucessor do Apóstolo São Pedro.

O primeiro documento pastoral que publicou, a Exortação Apostólica “A Alegria do Evangelho”, demonstra sua coragem política e pastoral, ao propor para a Igreja Universal a Evangelização das Periferias Geográficas e Existenciais, colocando no centro da reflexão teológica e eclesial o pobre como fonte de revelação divina e não como uma categoria sociológica. Também determinou que os núncios apostólicos, seus embaixadores, celebrassem nas periferias, sempre que fizessem visitas oficiais às dioceses em seu nome. Abriu as portas do Vaticano para os refugiados e os sem-teto, construindo lavanderia, cozinha e dormitórios para acolhê-los.

A proposta de uma Igreja em Saída mexeu com a dinâmica pastoral em todo o mundo, resgatando o Espírito do Concílio Vaticano II de uma Igreja aberta, plural e dinâmica, que dialoga e respeita os avanços da sociedade, do conhecimento e das instituições.

Ao publicar a Encíclica “Louvado Sejas”, inovou introduzindo o tema da Ecologia na Doutrina Social da Igreja, criticando explicitamente o modelo econômico predatório em curso, chamando a atenção para os problemas ecológicos que estamos enfrentando, atribuindo a sua responsabilidade aos governos das nações ricas.

Abordou questões morais sérias e caras à Igreja, como o divórcio, a homoafetividade e o aborto, com serenidade, seriedade e compaixão, abrindo as portas da Igreja para o acolhimento e o acompanhamento pastoral das pessoas, independentemente de sua condição.

Enfrentou com transparência e firmeza as denúncias de abuso sexual de clérigos em todo o mundo, da mesma maneira que enfrentou as denúncias de corrupção financeira na estrutura da Igreja.

Reformulou a Cúria Romana para atender melhor as Igrejas Particulares ou Dioceses e valorizou a pluralidade cultural presente na Igreja, renovando o Colégio de Cardeais com representantes de toda parte do mundo.

Abriu o governo da Igreja para as mulheres, nomeando leigas e freiras para funções administrativas e pastorais, como a recente nomeação de uma religiosa para o Dicastério de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica. Ainda determinou que as Dioceses nomeassem mulheres para o Conselho Administrativo e para cargos de governo.

Promoveu os movimentos sociais e ecológicos no mundo inteiro, organizando e participando de encontros com lideranças e ativistas de todos os continentes. Idealizava uma nova economia para o mundo e uma nova forma de se lidar com os bens materiais, acreditando que os jovens economistas é que poderão construir isso.

Nas Jornadas Mundiais das Juventudes, estimulou os jovens a transformar o mundo através do sonho, da ousadia e da esperança. Sua proposta de sinodalidade levou para dentro do Vaticano a experiência da Igreja Latino-Americana e Caribenha, principalmente das vivências das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), que surgiram aqui, no Espírito Santo, como prática do Concílio Vaticano II.

Foi incansável em denunciar o uso de recursos financeiros para produzir armas, ao invés de ser usado para acabar com a fome no mundo, propondo a diplomacia e o diálogo como forma de superação dos conflitos e não a guerra. Poucas horas antes de sua morte, recebeu o vice-presidente dos Estados Unidos, James David Vance, um de seus mais ferrenhos antagonistas, mostrando ao mundo que o diálogo e o compromisso com a humanidade devem se impor às diferenças pessoais e ideológicas.

Hoje o mundo está enlutado e a humanidade se sentido só, impactada pela morte de Francisco, porque ele nos impactou nesses quase 13 anos de pontificado. Mas a Igreja, embora governada por homens, é de índole divina. Ela é muito maior do que quem a governa, porque é conduzida pelo Espírito Santo. Logo, nosso sentimento de orfandade será superado porque, como nos recordou Francisco ao proclamar o Ano Jubilar, somos Peregrinos de Esperança e nossa Esperança não decepciona. Ela está ancorada n’Aquele que venceu a morte e vive para sempre.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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