Até pouco tempo atrás, homo, bi e heterossexualidade eram as únicas formas de orientação sexual que sabíamos existir. E para diferenciar uma pessoa cisgênera de uma transgênera bastava a comparação entre suas identidades de gênero com o nome e o gênero registrados em certidão de nascimento. Pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis, mulheres transexuais e homens trans tinham suas condições definidas e sua população identificada como LGBT.
Em 2008, acontecia a primeira Conferência Nacional LGBT, em Brasília, quando foram identificadas muitas das necessidades específicas de cada uma dessas populações sob a sigla, e muitas políticas públicas foram propostas. De lá pra cá, avanços da ciência e do próprio entendimento de si por membros dessa população provocaram a saída do armário de outras com condições um pouco diferentes, mas ainda no espectro plural dessa população.
Se você, que não se entende LGBT, acha que isso não tem a ver com você, você está enganado. Nesses últimos anos, identificamos que nem todas as pessoas sentem atração sexual e afetiva na mesma intensidade. Pessoas que não se identificavam com o gênero registrado na certidão e nem com os gêneros masculino ou feminino puderam expressar suas formas não binárias de identidade.
Entendemos hoje que orientação sexual e orientação afetiva podem ter direções e intensidades para gêneros binários ou não binários, como queer, agênero, gênero fluido, bigênero e muitos outros. Que a atração sexual pode depender da pré-existência de afeto pela pessoa e, por isso, para os demissexuais, é necessário conhecer e nutrir sentimento para ter atração física, pelo menos na maior parte das vezes.
A pansexualidade foi o nome criado para a atração por qualquer gênero, binário ou não. A assexualidade passou a ser entendida não só como uma ausência de atração por outra pessoa, mas um espectro de formas de viver sua sexualidade e afetividade que contemplam a demissexualidade e a arromanticidade, que é a falta da necessidade de criação de vínculo afetivo.
Foi descoberto também que a aparência de nossos órgãos externos do aparelho sexual eram motivo de intervenções cirúrgicas logo depois do nascimento para ‘normalizar’ a anatomia do sexo das pessoas em vários países, e um movimento mundial pela proteção de bebês intersexo nasceu e foi difundido pela própria Organização das Nações Unidas (ONU) em 2016.
Compreender as condições intersexo ampliou em muito nosso entendimento sobre o que é realmente natural em ser humano. Não só os órgãos internos e externos do aparelho reprodutor, mas condições cromossomiais, hormonais e de sensibilidade corporal.
Uma pesquisa universitária realizada nos EUA, com mais de 18 mil pessoas, revelou que em torno de 0,5% das pessoas não se identifica com o gênero expresso na certidão de nascimento, mas com o gênero binário oposto ou um outro gênero não binário.
A ciência nos ajudou muito ao identificar mais de 100 genes que podem levar um homem cisgênero a ser homossexual. E comprovou o importante papel da epigenética, que é a alteração de traços do nosso DNA por meio de hormônios na interação de mãe e bebê durante a gestação.
Veja que, assim, ampliamos nosso entendimento da evolução em grupo, não apenas individual; em que a homossexualidade não é uma desvantagem que põe a procriação da espécie em risco, mas um elemento importante para o equilíbrio da convivência, presente em mais de 5 mil espécies de animais que se organizam em famílias, grupos e sociedades.
Afirmo a você, pessoa que lê este texto, que de tudo o que pude aprender até aqui, com mais da metade da minha vida estudando a diversidade nesse âmbito: o ensinamento mais valioso que posso apontar é que, para o progresso da humanidade, importa, sim, que sejamos diferentes.
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Cada diferença se torna uma vantagem evolutiva quando compreendida, respeitada e integrada no grupo em que se apresenta. Ao aceitar e incorporar todas as pessoas numa sociedade plural que preze pela equidade, estaremos no rumo certo para criação de um mundo melhor, mais humano e em melhor acordo com a natureza de cada indivíduo, sejam cisgêneros heterossexuais, sejam pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis, mulheres transexuais, homens trans, pessoas queer, intersexo, assexuais, pansexuais e outras com condições de sexo, gênero e orientação minoritárias (LGBTQIAP+).
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