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É pároco da Paróquia Santa Teresa de Calcutá e Vigário para Ação Social, Política e Ecumênica da Arquidiocese de Vitória

Pessoas em situação de rua dão lição de solidariedade na Semana Santa

Nesta segunda-feira (14) da Semana Santa, presenciamos uma manifestação explícita do amor incondicional, quando essas pessoas se jogaram em um valão de esgoto a céu aberto, em Vila Velha, para tentar salvar a vida de uma pessoa

  • Kelder José Brandão Figueira É pároco da Paróquia Santa Teresa de Calcutá e Vigário para Ação Social, Política e Ecumênica da Arquidiocese de Vitória
Publicado em 14/04/2025 às 17h50

A Semana Santa é um tempo sagrado para os cristãos. Celebraremos, nos próximos dias, o Tríduo Pascal, a liturgia mais solene e importante da fé cristã, que se dá em torno da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus.

Durante a Semana Santa, refletimos sobre os caminhos que Jesus percorreu e a ética que norteou suas escolhas, como encontramos no discurso de despedida que Ele fez na última ceia, ao dizer: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos. Vós sois meus amigos, se praticais o que vos mando” (Jo 15,13).

O amor é a essência da fé cristã e se manifesta em gestos concretos de desapego aos bens materiais e à própria vida, como aprendemos com Jesus de Nazaré. Nesta segunda-feira (14) da Semana Santa, presenciamos uma manifestação explícita do amor incondicional, quando pessoas em situação de rua se jogaram em um valão de esgoto a céu aberto, em Vila Velha, para tentar salvar a vida de uma pessoa.

Veja o vídeo do resgate do motorista do carro

Grande parte da sociedade capixaba não suporta conviver com as pessoas em situação de rua, demandando do poder público ações higienistas, como presenciamos nos municípios da Grande Vitória.

São comuns os relatos das pessoas em situação de rua denunciando ações que acontecem noite adentro, realizadas por agentes do poder público, que destroem suas “malocas”, seus poucos pertences e documentos, com uso de violência e jatos de água; ações de vereadores e lideranças comunitárias envolvendo destacamentos policiais para prendê-los, a pretexto de combater o crime; audiências públicas que as criminalizam para fidelizar eleitores; projetos de lei que buscam impedir sua circulação nos espaços públicos ou a presença de catadores de materiais recicláveis na orla dos municípios e nos bairros de classe média e alta — e por aí vai.

Resgate na Praia da Costa após carro cair em valão embaixo da Terceira Ponte
Resgate na Praia da Costa após carro cair em valão embaixo da Terceira Ponte. Crédito: Leitor A Gazeta

Recentemente, a imprensa noticiou o drama de doze pessoas do Rio de Janeiro, transportadas para Linhares pela prefeitura de Cabo Frio. Essa é a política adotada por muitos municípios em relação a essa população: uma política que fere o arcabouço legal e a dignidade humana. Via de regra, as pessoas em situação de rua são tratadas como lixo ou criminosos.

O episódio do valão em Vila Velha, entre tantos outros que podem ser relatados por quem trabalha com essa parcela da população, mostra que, apesar dos sofrimentos, preconceitos e da constante criminalização a que são submetidos, as pessoas em situação de rua não perdem sua humanidade e a capacidade de fazer o bem.

Essas pessoas, com suas vivências, nos ensinam que é possível construir um mundo novo, uma nova sociedade, se, ao invés de propagarmos o ódio, a violência, o preconceito e a intolerância como modo de vida, começarmos a realizar gestos concretos de amor e solidariedade, desenvolvendo em nosso interior a empatia necessária para o acolhimento e o convívio com o outro que é diverso e diferente de nós. Isso é Ressurreição!

Durante estes dias sagrados da Semana Santa, voltemos nosso olhar para essas pessoas e aprendamos com elas a ética do cuidado, a lição maior do Filho de Deus, que caminhou entre nós, andando por toda parte e fazendo o bem (At 10,38). Feliz Páscoa!

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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