No filme "O Diabo Veste Prada" há uma cena da personagem Miranda Priestly, representando um ícone do conhecimento da moda, onde esta afirma a Andy, sua nova assistente desavisada, que roupas não são apenas roupas. E ela não está errada. E prova disso foi a comoção, e por que não dizer os ataques, à loja de departamento de moda Riachuelo pela venda de um pijama listrado.
Alguns podem indagar: “Mas qual o problema de um pijama com listras? Afinal o verão europeu 2023 não trouxe as listras como uma de suas tendências?”
O problema é o simbólico! Confirmando o icônico personagem citado acima, roupas vão além de roupas, roupas passam uma simbologia que nos remete a tempos, espaços e até mesmo tipos de personalidades. Com certeza você já observou uma roupa e lembrou de um dia de sol em uma praia, em um ano (“muito década de 20 este chapéu”) e até descreveu alguém como extrovertida ou excêntrica a partir da observação de suas roupas. Não??!
Com o arcabouço histórico-cultural que temos relativo ao nazismo facilmente remeteremos a estética do tal pijama aos campos de concentração. Inclusive em outro lugar de arte, o cinema, tal pijama simboliza os prisioneiros dos campos de concentração, exemplo disso é o filme "O Menino do Pijama Listrado", no qual um pequenino judeu preso em um desses campos utiliza a traje por todo período de sofrimento até sua morte. Assim, tais constructos incorporados ao imaginário social acabam por não permitir que aqueles que conheçam a história de tal genocídio não se comovam a olhar para uma vitrina com a referida roupa.
Porém, como trata-se de um simbolismo e da necessidade de conhecimento sobre tal representação, muitos, que não a possuem entenderão que o posicionamento de comoção é mera reclamação da galera do "mimimi".
De qualquer forma, sendo "mimimi" ou não, a empresa Riachuelo optou por retirar de suas vitrines o referido pijama. Decisão um tanto quanto acertada haja vista que hoje a associação de sua imagem com os terrores de uma guerra não é bem o desejo de qualquer empresa.
Atualmente ações socialmente corretas, alinhadas à responsabilidade social, vêm sendo um dos parâmetros que determinam o consumo, mesmo que isso também seja moda. Dessa forma os simbolismos se tornam algo precípuo a muitas organizações e empresas.
No final das contas, as roupas e nossas escolhas sobre elas dizem sim respeito a quem somos e ao que acreditamos, até mesmo quando acreditamos que não, como a desavisada assistente Andy do filme "O Diabo Veste Prada"!
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