A Cultura é uma das pastas de menor orçamento numa administração pública, e que tem a árdua missão de ser autodidata e sustentável, sem recursos financeiros para capacitação de profissionais da área, e investimentos em produções, atividades e eventos.
Tivemos, na minha cidade de Vila Velha, uma renovação de quase 70% na Câmara de Vereadores, além da eleição, com expressiva votação a prefeito, do jovem e atuante vereador Arnaldinho Borgo, com propostas de profundas reformas na gestão da terceira cidade mais antiga do país, com quase meio milhão de habitantes, e que daqui a quinze anos alcança a significativa marca de 500 anos (1535/2035), mas hoje com um passivo cultural enorme.
Quais as minhas expectativas, como cidadão, escritor e produtor cultural, sobre as políticas culturais a serem apresentadas pelos recém-eleitos representantes públicos do Executivo e Legislativo municipais em tempos difíceis de pós-pandemia? Que diferença fará nas nossas vidas se foram eleitos, ou não, representantes afinados com as propostas dos artistas e produtores culturais da nossa cidade?
Regra geral, com algumas exceções, muitos candidatos entram na disputa sem incluírem projetos de cultura em seus planos de mandatos. Ou o fazem de forma figurativa. A avaliação é simples: a grande maioria não conhece as propostas do setor, em parte por não priorizar a pasta, e pela falta de iniciativa dos agentes culturais na elaboração e discussão das demandas com a classe política. Falta diálogo entre as partes. Falta integração com a comunidade, fundamental para o fazer cultural.
E por que os candidatos deveriam saber quais ações programar para democratizar a arte e a cultura no seu bairro, na escola de seu filho, nos parques e locais públicos, teatros, cinemas e bibliotecas? Porque o conhecimento sempre será porta aberta para o empreendedorismo, a geração de empregos, a qualificação do capital humano, a formação e fortalecimento da nossa identidade cultural canela-verde e capixaba, entre outras atividades que mudam a realidade das pessoas. O livro, a arte, o espetáculo, o filme, o folclore e a dança são – tal como o medicamento e o material escolar – direitos do cidadão.
Demos um passo importante, mas não o suficiente, com sanção da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc – Lei 14.017/2020 –, carregada de mecanismos de auxílio aos profissionais da cultura do país, uma das primeiras áreas a serem atingidas pela pandemia do coronavírus, e as que tardarão mais a retornar. Necessitando portanto desta ajuda.
Os artistas estão acostumados a viver sob as incertezas do sucesso ou não de público e de crítica, da captação ou não de patrocinadores. A pandemia do novo coronavírus, no entanto, transformou o que era embaçado em algo totalmente obscuro. Quando, afinal a rotina se restabelecer, uma nova forma de relacionamento com o público deverá ser criada, pois, se o conteúdo continuará praticamente o mesmo, o modelo de consumo será totalmente novo.
Se faz necessário, e urgente, discutir amplamente como a arte, que respira junto com o povo e dele emana, vai conviver com o futuro de distanciamento social e o uso de protetores respiratórios individuais – as máscaras. Os efeitos da prolongada parada das atividades culturais devem acompanhar-nos ainda por muito tempo, e consequentemente, mudar a forma de consumo. Um grande desafio, mas que nos estimula a ajudar a manter acesa a chama da cultura, e da economia criativa aqui em terras capixabas.
Este vídeo pode te interessar
O autor é escritor, produtor cultural e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.