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Sátina é psicóloga e advogada. Juliana é psicóloga

Por que Beyoncé virou inspiração para quem quer largar o emprego?

A popstar talvez não tenha feito a letra de "Break My Soul"  para contribuir com o movimento “A Grande Renúncia”, mas para  muitas pessoas foi um sinal de que estavam no lugar errado e mereciam mais

  • Sátina Pimenta e Juliana Berzin Sátina é psicóloga e advogada. Juliana é psicóloga
Publicado em 07/07/2022 às 14h11
Beyoncé
A cantora Beyoncé na capa do álbum 'Renaissance', a ser lançado em 29 de julho. Crédito: Twitter/@beyonce

Que a cantora Beyoncé, conhecida como Queen B, era uma grande influenciadora do comportamento de seus fãs todos nós já sabíamos! Agora o novo hit da artista intitulado "Break My Soul" tornou-se música tema do movimento “A Grande Renúncia”, haja visto que em certo momento da música a artista internacional brada “eu acabei de pedir demissão, vou buscar meu novo caminho, trabalhei muito duro”.

Você já ouviu falar sobre esse movimento? Não? Então vamos lá! Alcunhado pelo psicólogo americano Anthony Klotz, o fenômeno descreve as ondas de demissão voluntária iniciadas a partir de abril de 2021 no Estados Unidos, quando cerca de 4 milhões de americanos pediram demissão de seus empregos.

O movimento é consequência da crise econômica e social que a pandemia nos trouxe. Muitas pessoas foram demitidas, porém aquelas que mantiveram seus empregos passaram a repensar as condições a que se submetiam e as prioridades de suas vidas.

E no Brasil? Aqui, o movimento também já chegou, mesmo com taxas de desemprego em 11,1% no primeiro semestre de 2022, segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), números recordes de demissão voluntária foram atingidos no mês de março, alcançando 603 mil pessoas.

Analisando esse movimento, alguns fatores estão presentes. Demissões reprimidas pelo período mais crítico da pandemia, o esgotamento mental, as reflexões impostas sobre as prioridades da vida e a necessidade de autonomia.

Além das restrições do isolamento social, os papéis profissional e familiar vieram para o espaço privado do lar, com aulas remotas e o home office atingindo em especial as mulheres. Segunda a Organização Internacional do Trabalho, a sobrecarga da jornada dupla trouxe consequências à saúde física e mental das mulheres. Não é à toa que a diminuição da mulher no mercado de trabalho ocorre justamente entre aquelas com filhos pequenos, conforme dados do IBGE.

Já os profissionais que trabalharam de forma presencial sentiram o medo da contaminação. O cansaço evidenciado pela sobrecarga da pandemia provoca grave consequências. Os quadros de ansiedade, estresse e depressão motivam as ausências no trabalho, representando a terceira maior causa dos afastamentos.

O termo em inglês para o movimento é The Great Resignation que em uma tradução ao pé da letra é “A grande renúncia”. Renunciar é uma ato de coragem, quando algo não faz mais sentido, precisa ser ressignificado. Mas o que está por trás dessa nova forma de se pensar a vida e o trabalho?

Foram muitas perdas vividas, desde a segurança daquilo que era conhecido, até de pessoas queridas. As perdas geram naqueles que ficam um movimento de ressignificação sobre muita coisa. O sentido da vida, amor, família, ódio, ressentimento e quem somos afinal são exemplos de ressignificáveis presentes no luto. Quando próximos da morte, somos chamados a pensar na vida.

Porém não só os sentimentos foram ressignificados! Quando entendemos que existiam novas formas de se trabalhar, muitas delas mais amenas que as anteriores e mais próximas dos nossos valores, passamos a entender que o trabalho não é o centro da vida e que não precisa ser um fardo. Acordamos para esse fato quando fomos tirados de nossa rotina. Estávamos tão imersos nela e em suas imposições, que nem sequer sentíamos tal submissão.

Vimos durante a pandemia as pessoas desempregadas ressignificarem-se utilizando da criatividade e da tecnologia e passaram a ter uma melhor qualidade de vida diante de uma perspectiva de trabalho sem a presença de inseguranças organizacionais, da falta de reconhecimento, de tarefas engessadas que não traziam mais aprendizado, dos assédios de todos os tipos (principalmente os existenciais) e por aí vai.

A popstar talvez não tenha feito a letra para contribuir com o movimento, mas para alguns ela se tornou um sinal de que estavam no lugar errado e mereciam mais, isso é uma fato! E você já pensou em aderir o movimento de renúncia?

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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