Aprendemos desde os primórdios da escola que a quantidade de água que circunda e liga os continentes sempre sugeriu o deslocamento de pessoas e cargas através dela.
A expansão rodoviária estagnou os transportes por ferrovia e hidrovia. Mas o grande equívoco nas avaliações de cada modal tem sido as comparações de custos, onde não se avaliam corretamente os custos sociais e ambientais envolvidos em cada caso.
Uma avaliação econômico-financeira eficaz agrega os custos e benefícios indiretos de cada atividade realizada, isto é, internaliza as externalidades no âmbito do negócio. A esta nova análise mais abrangente, que reconhece a necessidade de minuciar os impactos sociais e ambientais impostos à sociedade, chamamos de avaliação socioambiental.
Benefícios socioambientais não são fluxos financeiros, compõem-se de efeitos quantificados e qualificados conforme uma unidade monetária, para que sirva de comparação entre as somas econômico-financeiras e as socioambientais. Por exemplo, o Metrô de São Paulo mostrou no seu relatório anual de 2011 um prejuízo financeiro de R$ 134 milhões, mas benefícios socioambientais num total de R$ 6,44 bilhões (Balanço Social). Confrontando os dois valores, o serviço de transporte prestado para a sociedade por meio do metrô é altamente rentável e justifica o subsídio do governo.
A avaliação do mérito da hidrovia só pode ser feita adequadamente se aferidas com rigor as externalidades positivas dela decorrentes, comparadas com as externalidades negativas do modal concorrente.
A primazia do transporte rodoviário está sendo contestada mundo afora, pois reconhecem que a sua aparente eficiência econômica resulta da ignorância das externalidades negativas pelas quais todos pagamos, sobretudo através do meio ambiente e saúde pública. Nesta direção, o aquaviário oferece muitas vantagens, mas há resistência, uma certa hipocrisia corporativa com relação a investimentos em algo que contrarie interesses do modus operandi em curso.
Transpor a separação espacial entre os municípios da Grande Vitória para exercermos nossas atividades cotidianas exige muito esforço. Apesar da ineficiência no transporte coletivo atual, o potencial para transporte aquaviário é extremamente subutilizado. Ainda não fomos contemplados com a integração de um sistema de transporte de massa eficiente. Até agora, muitos rumores entusiásticos, mas apenas pressupostos ficcionais.
Apesar da notável habilidade retórica entre os gestores, persiste a ambivalência nos significados de suas propostas. Revela-se quando os mesmos agentes defendem soluções diferentes para os problemas permanentes, variando de acordo com o humor da governança. É o caso de um edital ser lançado em 2014 com uma formatação e agora o mesmo objeto trazer outro desenho funcional. Ficamos confusos quando o mesmo estímulo tem valências concorrentes, o que afeta nossa convicção. Todavia, fico com a esperança, pois acreditar é um ato de fé.
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*O autor é especialista em Administração Pública, Gestão de Projetos e Engenharia de Tráfego
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