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É economista, professor universitário, pesquisador e doutor em Ciências Contábeis

Quais são os impactos da tragédia climática gaúcha na economia do país?

O Rio Grande do Sul é uma das principais economias brasileiras, tanto em termos de mercado consumidor, quanto tem termos de capacidade produtiva

  • Felipe Storch Damasceno É economista, professor universitário, pesquisador e doutor em Ciências Contábeis
Publicado em 10/05/2024 às 15h05

Provavelmente estamos vivendo a pior tragédia climática do nosso país e não estávamos preparados para ela. Como em vários pontos da nossa realidade de desenvolvimento como sociedade, planejar é mais barato que remediar. Infelizmente somos mais reativos do que proativos e agora existe um custo gerado que precisamos lidar com ele.

Esse custo vai se manifestar primeiro na reconstrução do Rio Grande do Sul, mas também em termos de redução do PIB potencial para 2024 (quiçá 2025) e no impacto inflacionário. Primeiro, o estado gaúcho é uma das principais economias brasileiras, tanto em termos de mercado consumidor, quanto tem termos de capacidade produtiva. Segundo o governo Federal vai (deve) ajudar a pagar a conta. Esses dois pontos são importantes para entender o impacto econômico gerado por essa catástrofe ainda em curso.

Ainda não sabemos o efeito real das enchentes de 2024, mas muitas empresas estão paradas,  por terem sido afetadas ou por solidariedade às vítimas. A produção e a geração de salários são reduzidas e, com isso, o PIB brasileiro perde um dos seus pilares.

Por outro lado, o Rio Grande do Sul é o maior produtor de trigo e arroz do Brasil, além de cumprir papel relevante na produção de soja, milho, aves e suínos. São dois problemas distintos. Primeiro, parte da safra ainda não tinha sido colhida e existem incertezas sobre o escoamento do que estava selado e, por outro, a possível morte de animais. A expectativa é de aumento no preço de alimentos, o que vai gerar impacto inflacionário e comprometimento do espaço para redução da taxa Selic.

O segundo ponto de atenção é a conta da reconstrução, hoje estimada em algo entre R$ 12 e 15 bilhões. É uma conta alta, mas dentro do esperado dado o tamanho da tragédia. O risco aqui é existir uma escalada de novos gastos, possivelmente não correlacionados, que podem comprometer o orçamento federal e a (já debilitada) capacidade de cumprir as metas estipuladas no arcabouço fiscal.

Esse cenário geraria deterioramento das expectativas, fuga de investidores, aumento da taxa de câmbio, impacto inflacionário... Toda a história que já conhecemos e continua nos afligindo. Também não podemos esquecer que, sendo um grande mercado consumidor, está sendo comprometida a capacidade do governo de gerar receita.

Imagem áerea de Porto Alegre, afetada pelas chuvas desde o fim de abril
Imagem áerea de Porto Alegre, afetada pelas chuvas desde o fim de abril. Crédito: Ricardo Stuckert

Felizmente, o Espírito Santo é um estado fiscalmente responsável e organizado. Essa vantagem comparativa em relação à federação nos torna mais atrativos para os investidores e tendemos a sentir menos. Nossa relação econômica com o setor externo também se torna uma vantagem.

De todo jeito, podemos antecipar alguns efeitos de aumento do custo de alimentação, potencial dificuldade para recebermos alguns produtos de fábricas gaúchas e uma expansão menor da economia e consequentemente do emprego e dos salários. O efeito total vai depender do real impacto gerado (que só saberemos quando as águas baixarem) e da velocidade da reconstrução do Rio Grande do Sul, em termos sociais e econômicos.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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