O setor de petróleo e gás tem sido fonte de grandes emoções. Boas notícias, sinais preocupantes e resultados inesperados. Na última segunda-feira (26), na reunião do Conselho Nacional de Política Energética, foi anunciada a Política Nacional de Transição Energética (PNTE), com projeções de R$ 2 trilhões em investimentos na economia verde e capacidade de gerar até 3 milhões de empregos.
Na mesma reunião foi apresentado um pacote de medidas de regulamentação do mercado de gás natural, destinado a ampliar a oferta, reduzir os preços e favorecer o acesso à população de baixa renda através da ampliação do Auxílio Gás. As medidas não foram recebidas sem questionamentos técnicos, mas o sentido geral é positivo.
Para o Espírito Santo elas são particularmente importantes, em função do peso do estado na produção de gás natural. Somos o quarto maior produtor do país e o terceiro estado mais bem posicionado no Ranking do Mercado Livre de Gás Natural (RELIVRE).
O mais importante é que são medidas em linha com o programa ES Mais+Gás, uma iniciativa pioneira fruto de uma parceria do Governo do Espírito Santo com o setor privado. Tema que tratamos no nosso artigo publicado aqui mesmo no início de agosto.
Também foi anunciado o fim do programa de venda de ativos da Petrobras, como refinarias e campos maduros. E aqui começam os sinais preocupantes, acende um alerta sobre o direcionamento e da qualidade dos futuros investimentos da empresa.
Afinal, o uso da empresa para sustentar políticas industriais questionáveis e realizar investimentos discutíveis ainda está vivo na memória de todos nós.
Na verdade, essa era uma decisão que, na prática, já havia sido tomada desde o início do atual governo Lula. Em março de 2023, eu e o governador Renato Casagrande estivemos com o então presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, para reivindicar que o programa de desinvestimentos da empresa não fosse interrompido.
Sobretudo para que não houvesse uma reversão na transferência dos campos do Polo Norte Capixaba para a empresa norueguesa Seacrest, o que felizmente foi concretizado em abril de 2023.
A produção de petróleo e gás onshore no Espírito Santo vinha num acentuado processo de declínio, superior ao da média nacional, e com a redução da exploração de novos poços. A transferência dos campos onshore para novas empresas está gerando resultados positivos além do previsto.
Desde o ano passado a produção teve um forte incremento e já atingiu cerca de 10.000 barris de óleo equivalente por dia. A expectativa é de triplicar até 2028, atingindo 30.000 barris, com investimento diretos de mais de R$ 2 bilhões, que podem gerar também R$ 2 bilhões em impostos para o mercado regional do Norte capixaba. A expectativa de perfuração de novos poços é exponencial. Só a Seacrest tem uma meta de 300.
O mais relevante é aquilo que estava fora do radar. A entrada em cena das chamadas empresas “juniors oils” trouxe um novo padrão de desenvolvimento de fornecedores e da relação com as economias locais. Atualmente, as empresas do onshore contam com mais de 450 fornecedores capixabas de materiais e serviços. Uma espécie de política industrial de sucesso.
A ampliação dos impactos de um setor específico, sobre o conjunto da economia local, pode estar acontecendo por um caminho inesperado. O da entrada no mercado de empresas de um porte distinto das grandes petroleiras.
As empresas produtoras do onshore com atuação no norte capixaba - Seacrest Petróleo, Mandacaru Energia, Imetame, EnP Energy Platform e Capixaba Energia - firmaram um acordo batizado de IntegrES, com o objetivo de aumentar a integração e a sinergia operacional entre as operadoras independentes, elevar a atratividade no mercado e promover a imagem do setor dentro e fora do estado.
Uma ação pioneira, que além de criar oportunidades para as empresas locais, visa impulsionar o desenvolvimento socioeconômico do Espírito Santo, gerando empregos, acelerando o crescimento industrial e tornando o estado um polo ainda mais relevante no de óleo e gás. Há uma avenida aberta para ser explorada na relação entre empresas, prefeitura e governo do Estado.
Estamos falando em desenvolvimento local, com impacto direto na vida das pessoas. As lideranças públicas têm que estar atentas aos sinais e assim criar condições ainda mais favoráveis para que o inesperado se transforme em oportunidades e resultados para todos.
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