Como esperado, na edição deste ano de uma das maiores feiras de tecnologia e inovação do mundo, a Web Summit Rio, realizada na semana passada no Rio de Janeiro, a Inteligência Artificial foi um dos assuntos mais abordados, tanto nos painéis temáticos quanto nos projetos de startups e de grandes empresas.
No entanto, diante da emergência climática, a questão ambiental foi o tema de maior destaque no evento, que é focado em conectar investidores a criadores e desenvolvedores de tecnologias.
A categoria PlanetTech da feira agrupou diversos painéis dedicados a divulgar e debater alternativas para enfrentar a crise climática, como projetos socioambientais diversos e estratégias de reflorestamento em larga escala. Dezenas de empresas e startups apresentaram soluções voltadas para problemas de energia e saneamento, sistemas de tratamento e reciclagem de resíduos, aplicativos voltados para a preservação do meio ambiente e ações de sustentabilidade e, sobretudo, tecnologias e plataformas destinadas a otimizar o mercado de créditos de carbono.
Uma dessas plataformas possibilita conectar empresas, indivíduos e parceiros em projetos de sustentabilidade e de restauração ambiental, apostando no crescimento deste setor. (No Brasil, o projeto de lei 2148/15, aprovado pela Câmara dos Deputados em dezembro de 2023, prevê a regulamentação do mercado de carbono no país, estabelecendo limites para emissões de gases de efeito estufa, entre outras regras).
Nessa perspectiva, a natureza é compreendida como uma mercadoria. Um palestrante, CEO de uma fundação dedicada a questões climáticas, sugere “dar à natureza um lugar no conselho” das empresas como forma de construir relações sustentáveis com o mundo natural e “curar as feridas” da Terra.
Investidores destacam a relevância do Brasil como sendo o melhor país para se investir no mercado de carbono, considerando nossos vastos ecossistemas ainda preservados e as potencialidades das agroflorestas. Com vistas à ampliação de áreas de reflorestamento, empresas projetam soluções para dinamizar planos de manejo em áreas naturais (inclusive com a utilização da IA e de drones) e desenvolvem tecnologias para acelerar o crescimento de árvores.
Seguindo uma tendência mundial (que na verdade deveria ser um pressuposto), o evento também abriu espaço para representantes de povos originários. Em um painel sobre alternativas para a enfrentar a emergência climática, as jovens ativistas indígenas Helena Gualinga, do povo Kichwa, do Equador, e a modelo brasileira Zaya Guarani, de Rondônia, denunciaram os históricos e permanentes ataques aos territórios indígenas e o extermínio de povos da floresta amazônica.
O interesse de determinados grupos na exploração das riquezas ainda preservadas nesses territórios e as atividades poluidoras de várias empresas são os principais fatores de destruição de diversos ecossistemas ambientais. Ambas, Helena e Zaya, destacaram a importância do ativismo ambiental como forma de dar visibilidade a essas formas de expropriação dos territórios e combatê-las, visando um futuro sustentável a partir das comunidades indígenas. A natureza, na cosmologia indígena, é uma entidade viva, não um produto a ser comercializado.
![Mulher, mudança climática e meio ambiente](https://midias.agazeta.com.br/2022/11/04/mulher-mudanca-climatica-e-meio-ambiente-905712-article.jpg)
Assim, de que forma as tecnologias podem ser usadas para solucionar ou mitigar problemas socioambientais causados pela exploração desmesurada dos recursos naturais por parte de grandes corporações? Como governos, empresas e a sociedade civil organizada podem contribuir de fato para frear o avanço da crise climática?
Diante de tantas propostas, iniciativas e soluções tecnológicas disponíveis para dar conta desses desafios, resta saber se o mercado financeiro, com seus fluxos internacionais de capital, continuará sendo um obstáculo para que se efetive uma mudança de paradigma necessária na relação entre ser humano e natureza. Trata-se de um pré-requisito para que o cenário atual comece realmente a se modificar em direção a um futuro mais justo e sustentável.
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