Nossa dependência do meio ambiente é total. Dele retiramos o ar que respiramos, a água que mantém nossas vidas e nossa economia, e nele produzimos nosso alimento. Entretanto, poucos conseguem perceber as conexões existentes entre esses compartimentos e como o movimento de uma só peça pode afetar todas as outras.
A pandemia de Covid que nos assola, por exemplo, teve sua origem a partir de uma relação desarmônica com a natureza. Apesar de produzirmos grandes quantidades de proteína animal, através da criação dos animais de corte, ainda insistimos em entrar nas áreas naturais para caçar. Movidos pelo prazer da caça ou pela iguaria de uma carne exótica, nos expomos a vírus, fungos e bactérias presentes nessas regiões e nesses animais.
O coronavírus, causador da Covid-19, saltou de uma dessas espécies selvagens para a nossa espécie, através dessa relação predatória. No Brasil, inúmeros casos de hanseníase, conhecida como lepra, são registrados todos os anos, devido à caça e ao consumo de carne de tatu. Da mesma maneira que a Covid saltou de um animal silvestre para o ser humano, a lepra salta do tatu para o caçador e sua família. Imagine a infinidade de vírus e bactérias presentes em todos os animais caçados de forma ilegal no Brasil e no mundo, e assim terá a dimensão do quanto estamos expostos a novas pandemias no futuro.
Infelizmente, além da caça, causamos também o desaparecimento total desses ambientes. Segundo o Relatório Anual do Desmatamento, publicado pelo MapBiomas em 2019, a Amazônia perde para o desmatamento uma área equivalente a dois mil campos de futebol por dia. E não estamos apenas falando de árvores, mas também dos serviços ambientais por elas prestados.
As árvores amazônicas são responsáveis pela formação dos “rios voadores”, que distribuem as chuvas para o restante do Brasil. Uma única árvore gigantesca da Amazônia consegue transferir para a atmosfera até mil litros de água por dia. A soma de todas as árvores amazônicas joga na atmosfera mais água em um único dia do que o Rio Amazonas despeja no mar. Esse fabuloso volume se distribui pelo Brasil através das chuvas, enchendo os reservatórios que movem as turbinas das hidrelétricas, irrigando as plantações que sustentam o agronegócio e o almoço da sua família, além de abastecer sua residência.
Quando rompemos essas conexões, desencadeamos uma sucessão de eventos desastrosos, tanto para nossas vidas, quanto para o país. O ano de 2021, por exemplo, está sendo marcado por uma das piores crises hídricas já enfrentadas em regiões importantes sob a ação dos rios voadores. Como consequência direta, temos a ameaça futura de racionamento de energia, o aumento imediato das contas de luz e do preço dos alimentos. Através dessas conexões sua vida está, neste momento, sendo impactada tanto pelo desmatamento na Amazônia, que causa a seca e o aumento das suas despesas diárias, quanto pelas agressões ambientais no resto do mundo, que determinaram o isolamento social imposto pela Covid-19.
Esses são apenas dois exemplos de como estamos ligados ao todo. Existem muitos outros, mas a cada fio da teia de relações naturais que rompemos, perdemos um pouco da rede de vida que nos sustenta. Temos que atuar, mais do que nunca, como indivíduos e como sociedade.
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Seu voto, seus hábitos diários de consumo ou economia de recursos naturais, a maneira como você trata seu semelhante ou as outras formas de vida, tem um impacto direto sobre a Terra e seus habitantes. Comece por você, reflita sobre o que pode ser mudado para deixarmos essa condição de destruidores de ambientes e nos transformarmos em tecedores das teias de vida, de relações, de abundância e qualidade ambiental para ser desfrutada por todos, ligados ao todo.
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