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É advogada, autora do livro "Feminicídio: tipificação, poder e discurso" e idealizadora do coletivo Juntas e Seguras

Que fique o recado: nem pensem em nos matar

Parece que estamos há anos, todos os dias, em todos os lugares, falando a mesma coisa. Mas continuaremos falando, lutando e querendo todas nós vivas

  • Renata Bravo É advogada, autora do livro "Feminicídio: tipificação, poder e discurso" e idealizadora do coletivo Juntas e Seguras
Publicado em 25/03/2021 às 16h34
Mulher
Viver como mulher no Brasil é uma luta grande, uma batalha que tem muitos desafios. Crédito: Pixabay

Hoje, 25 de março, no mês da mulher, está sendo lançada uma campanha nacional de combate ao feminicídio no Brasil. É o Levante Feminista Contra o Feminicídio, com o mote #NemPenseEmMeMatar. Parece uma coisa de outro mundo pensar que precisamos fazer um movimento nacional, envolvendo diversas mulheres de setores de luta diferentes para poder pedir o óbvio: não nos matem, queremos continuar vivas.

Viver como mulher no Brasil é uma luta grande, uma batalha que tem muitos desafios e, no fim de tudo, o que a gente quer é viver em paz, sem ter nossos corpos e nossas vidas violadas. Sabemos que só pedir não resolve, por isso a luta é importante enquanto não estivermos seguras em todos os espaços.

Penso que, de 2015 até hoje, quando o termo "feminicídio" surgiu na nossa legislação e quando os jornais, a sociedade e as políticas públicas passaram a refletir esse crime de matar mulheres por serem mulheres, pouca coisa efetivamente mudou no Brasil para que a segurança estivesse presente em nossas vidas.

Por isso é tão importante denunciarmos o contexto cruel de todos os tipos de violências contra as mulheres que, em seus atos extremos, terminam nos feminicídios. É preciso que a gente denuncie o desmonte das políticas públicas que vinham sendo construídas no nosso país, porque se não há investimento - como está estampado na Transparência do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos desde janeiro de 2019 -, as políticas não conseguem sair do mero discurso para a vida real.

Devemos e fazemos um levante feminista, um levante de meninas e mulheres que enfrentam diariamente inúmeros desafios para viverem, para poderem existir em suas diversas representatividades, faces, formas e lutas. Fazemos um levante para que nossas vozes sejam ouvidas e para que nossas vidas sejam enxergadas como passíveis e possíveis de dignidade.

Parece que estamos há anos, todos os dias, em todos os lugares, falando a mesma coisa. Mas continuaremos falando, lutando e querendo todas nós vivas. Só assim será possível construirmos um presente justo. E que fique o recado: nem pensem em nos matar.

*Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta

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