A busca pela perfeição estética, cada vez mais disseminada pelas redes sociais, trouxe à tona um movimento de contracorrente que ganha força: o Quiet Beauty, algo que poderia ser traduzido como "beleza tranquila". Como dermatologista, tenho observado com preocupação o crescente número de pacientes em busca de procedimentos invasivos que transformam drasticamente suas feições.
A pesquisa anual da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS) revela que foram realizados 3,4 milhões de procedimentos estéticos no Brasil em 2023, sendo 2,2 milhões de procedimentos cirúrgicos e 1,2 milhão de casos não cirúrgicos. Entre esse último, os mais procurados são botox, ácido hialurônico, hidroxiapatita de cálcio, tratamentos de celulite e laser ablativo, respectivamente.
Os dados apresentados apontam o Brasil como o segundo país que mais realiza procedimentos estéticos no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Esse fenômeno, em grande parte influenciado por filtros de redes sociais e celebridades, tem gerado uma padronização estética que vai contra o princípio fundamental da beleza: a individualidade.
O Quiet Beauty, que defendo com convicção, surge como uma resposta a essa tendência exagerada de harmonizações faciais e procedimentos que desfiguram identidades. Em vez de criar rostos novos, a proposta é valorizar a beleza natural de cada paciente, respeitando as particularidades e traços que fazem parte da história de cada um.
O conceito de beleza é subjetivo e profundamente conectado à cultura e ao tempo. Não podemos nos prender a modismos temporários que, em muitos casos, trazem mais malefícios do que benefícios. A crescente banalização dos procedimentos estéticos – muitas vezes realizados por profissionais sem a devida qualificação – está transformando o rosto humano em uma tela de experimentos, com consequências muitas vezes irreversíveis.
A beleza, para mim, é um reflexo da saúde e do bem-estar. Como médica, meu compromisso é com a segurança e a qualidade de vida dos meus pacientes. Acredito que procedimentos estéticos devem ser utilizados com responsabilidade, para realçar o que há de melhor em cada indivíduo, e não para moldá-los em padrões superficiais e limitantes.
Em tempos em que o imediatismo e a padronização imperam, essa nova tendência é um resgate necessário da autenticidade. Mais do que nunca, precisamos de uma estética que respeite as nossas origens, cultura e, principalmente, nossa individualidade.
Os excessos podem estar na moda, mas a beleza verdadeira é aquela que se sustenta com o tempo – porque ela é, acima de tudo, natural.
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