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Recalibrando a corrida da IA: como a DeepSeek desafiou Wall Street

A DeepSeek inaugurou um novo capítulo na economia da inteligência artificial, no qual inovação e custo-benefício podem superar a simples escalabilidade financeira

  • Felipe Paixão É assessor de investimentos
Publicado em 18/03/2025 às 14h53

O lançamento do modelo de inteligência artificial DeepSeek R1 provocou um abalo sísmico no mercado de tecnologia, desencadeando uma forte liquidação das ações de gigantes como Nvidia, Meta e Alphabet. O episódio não se trata apenas de uma reação momentânea do mercado, mas de um questionamento estrutural sobre o paradigma vigente na corrida pela supremacia da IA. A ascensão de um competidor chinês com uma solução altamente eficiente e de baixo custo reconfigura os fundamentos econômicos que, até então, sustentavam os investimentos bilionários das big techs ocidentais.

O primeiro grande impacto desse movimento é a precificação do risco. O mercado acionário funciona sobre a premissa de expectativas futuras e, até o momento, investidores estavam dispostos a aceitar valuations elevados das gigantes da tecnologia com base na premissa de que a IA exigia investimentos massivos e era um mercado de oligopólio controlado por poucas empresas.

A DeepSeek desafia esse modelo ao demonstrar que é possível treinar modelos avançados com uma fração do custo enfrentado por OpenAI, Google e Meta. Esse fator altera drasticamente as projeções de retorno sobre investimento das empresas líderes, fazendo com que os investidores reavaliem a alocação de capital no setor.

Além disso, a inovação chinesa evidencia uma possível ineficiência dos investimentos das gigantes ocidentais. Se uma startup emergente conseguiu desenvolver um modelo competitivo sem acesso aos chips de ponta da Nvidia e sem os orçamentos bilionários de seus concorrentes, isso levanta dúvidas sobre a real necessidade de gastos tão elevados.

Os mercados financeiros penalizam essa incerteza, pois um aumento no custo sem garantia de retorno prejudica a percepção de sustentabilidade do crescimento de empresas como Meta e Alphabet, cujas projeções financeiras dependem do avanço da IA.

Outro ponto crucial é o impacto geopolítico e estratégico. Os Estados Unidos impõem restrições severas ao fornecimento de semicondutores avançados para a China, sob o argumento de que isso limitaria o avanço tecnológico do país asiático. No entanto, o sucesso da DeepSeek indica que a China já possui capacidade de inovar mesmo sem acesso às tecnologias mais sofisticadas do Ocidente. Isso pode resultar em ajustes na política industrial norte-americana, seja por meio de novos embargos, incentivos à indústria doméstica ou mesmo um aumento na pressão regulatória sobre empresas que dependem excessivamente de capital para manter sua vantagem competitiva.

Deepseek, chat de inteligência artificial chinês, pode ser acessado por site ou aplicativo
Deepseek, chat de inteligência artificial chinês, pode ser acessado por site ou aplicativo. Crédito: Álvaro Guaresqui/Rede Gazeta

Diante desse cenário, o mercado deve se preparar para um novo ciclo de reajuste nas expectativas de crescimento da indústria de IA. As empresas ocidentais precisarão demonstrar maior eficiência em seus investimentos, enquanto governos e reguladores buscarão mitigar os riscos de perda de competitividade global.

A DeepSeek inaugurou um novo capítulo na economia da inteligência artificial, no qual inovação e custo-benefício podem superar a simples escalabilidade financeira. O mercado, como sempre, responderá com ajustes e realocações de capital, mas a lição mais valiosa é que a corrida pela liderança em IA ganhou um novo e imprevisível competidor.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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