Como um dos autores e coordenador do projeto de reforma e restauro do Teatro Carlos Gomes, tive a oportunidade de ampliar meu conhecimento sobre a importância das ações de preservação do patrimônio e de valorização da cultura no Espírito Santo. O Teatro Carlos Gomes, projetado pelo arquiteto italiano André Carloni, é um dos ícones da Arquitetura Eclética no Estado, e sua reinauguração, prevista para 2025, proporcionará o acesso a uma gama considerável de apresentações teatrais e eventos musicais.
Considerando, claro, que o equipamento, por si só, já é motivo de atração de visitantes, pelo legado histórico-cultural, o projeto de reforma resgatou valores históricos que foram suprimidos ao longo das sucessivas intervenções, como a pintura parietal e o entendimento da sequência das camadas de tinta encontradas nas prospecções estratigráficas, bem como, através do resgate de imagens históricas, a compreensão da fachada mais antiga, que possuía vãos com proporções diferentes das atuais.
Se por um lado houve todo o respeito para com a preservação da memória, de outro lado, houve a preocupação de modernizar suas instalações com equipamentos de ponta.
A Cenotécnica de Urdimento e a ampliação do palco foram objeto de estudo detalhado. Buscamos a otimização dos espaços e das condições de salubridade, em especial do fosso da orquestra; o projeto do isolamento acústico contemplando a proteção às fontes de ruído do exterior e do sistema do ar condicionado; a automação do lustre – que era do Cassino da Urca - sobre a plateia e; o remanejamento dos sanitários – soluções de projeto que qualificaram o espaço interno.
Para que o usuário desse equipamento cultural tenha todo o entendimento da evolução da edificação através dos tempos, criamos um Espaço de Memória, com fotos históricas e placas comemorativas, além de um café – certamente um novo ponto de encontro da cidade. Todo o edifício contará com acessibilidade universal, para que possamos usufruir daquele espaço com segurança e conforto.
Nosso desejo é de que a restauração do TCG venha somar à revitalização do Centro de Vitória, pois é notório que o esvaziamento daquela região tem se intensificado desde a década de 80. Algumas ações pontuais foram realizadas com o objetivo de reverter esse processo e, no entorno imediato do teatro, podemos citar a criação do Sesc Glória; a restauração da Sede do Iphan e da Catedral Metropolitana, além da própria revitalização da Praça Costa Pereira, com a “novidade” de eliminar a fiação elétrica sobre postes e transferi-las para as galerias técnicas.
Enfim, pensar o Centro de Vitória é pensar sobre um espaço consolidado, heterogêneo, em um nível de complexidade muito maior do que possa parecer à primeira vista, pois envolve mais do que questões urbanísticas e de planejamento, mas também uma gama de significados simbólicos e memórias afetivas. O cerne da questão é como fazer o Centro ter seu valor reconhecido pelas atuais e futuras gerações para que elas possam ocupá-lo com o cuidado e o respeito que o Centro merece.
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