O MEC divulgou os primeiros resultados do Ideb de 2021, índice que mede a qualidade da educação básica brasileira a partir de duas dimensões. De um lado, a proficiência: aprendizagem em Língua Portuguesa e Matemática verificada por meio de uma avaliação nacional chamada Saeb. De outro, o fluxo: número de estudantes reprovados somado à quantidade de abandonos ao longo do ano letivo, ambos identificados por meio do Censo Escolar. Em seis breves comentários, quero destacar as principais conclusões que podemos extrair dos resultados preliminares.
Primeiro, os dados apresentados se referem ao que ocorreu durante a pandemia de Covid-19. O Brasil piorou na educação, e não é com surpresa que encaramos esse fato. Afinal, imaginar o contrário seria como cogitar a hipótese improvável de que a maior crise vivida pela educação em mais de um século não aumentaria as lacunas de aprendizagem, o abandono e a reprovação – três consequências diretas da pandemia apontadas por todos os especialistas da área.
Segundo, o Espírito Santo não esteve imune à pandemia e a seus efeitos. Portanto, os indicadores educacionais em nosso Estado também retrocederam, inclusive nas escolas particulares, evidenciando que o recuo aconteceu pelas condições adversas para o processo de ensino e aprendizagem vivenciadas por todos, independentemente se na rede pública ou privada. Nunca é demais lembrar que escola alguma estava preparada para enfrentar os desafios e os limites que a pandemia impôs, de forma imediata, à atividade educacional.
Terceiro, o ensino médio público no Espírito Santo, a cargo exclusivamente do governo do Estado, foi um dos que mais perdeu em aprendizagem no país. A razão é simples de compreender. Estudos como o de Ricardo Paes de Barros, do Insper, já mostravam que as redes públicas cujas escolas mais impactavam no sucesso escolar dos estudantes seriam, naturalmente, as que mais perderiam com seu fechamento, necessário em virtude das condições sanitárias da época. Assim, quando tivemos que interromper as atividades presenciais, perdemos nosso principal diferencial perante outros Estados.
Quarto, a perda projetada pelo estudo de Paes de Barros só foi menor em virtude das medidas tomadas para enfrentar a pandemia. A principal delas foi justamente a retomada das aulas presenciais e o restabelecimento das condições que nos levaram a alcançar o melhor ensino médio do Brasil no Ideb de 2019. A rede estadual voltou às aulas presenciais em outubro de 2020, sendo uma das primeiras no Brasil e uma das pouquíssimas a reabrir suas escolas ainda no primeiro ano da pandemia, num país reconhecido como o que por mais tempo manteve suas escolas fechadas entre as nações da OCDE.
Quinto, os dados do Saeb e do Censo Escolar precisam ser considerados com muita cautela. Em virtude dos inúmeros vieses que as duas dimensões do Ideb tiveram no período da pandemia, seja pelas condições de aplicação da prova, seja pelos parâmetros considerados em cada escola para o cálculo do Censo, o Ideb resultante pode ser enganoso para explicar a realidade brasileira.
Esse aspecto é bastante sério, visto que estamos falando de evidências para fundamentar políticas públicas futuras. Se os tomadores de decisão não estiverem atentos, poderão implementar políticas educacionais que, baseadas em dados enviesados, proporão soluções para uma agenda de desafios cuja resposta exige outro tipo de intervenção para superá-los.
Sexto, a principal conclusão da pandemia é que a escola importa, e muito, para nossos estudantes. Em que pese o avanço forçado, mas desigual, em inovação e no uso de tecnologias nos últimos dois anos, nada substitui a escola, tanto do ponto de vista da aprendizagem, como o Ideb revela, como do ponto de vista socioemocional, dimensão que sequer é captada pelo indicador. As soluções implementadas durante o ensino remoto certamente têm o seu lugar, mas devem ser pensadas de forma complementar a uma educação básica com escolas abertas, com atividades presenciais e interação face a face.
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