“Alguma coisa está fora da ordem, fora da nova ordem mundial”. Ao som de Caetano Veloso já éramos céticos em relação à nova ordem mundial, que surge a partir do colapso da União Soviética e do estabelecimento dos Estados Unidos como a única grande potência mundial. Não era e nunca foi um mundo perfeito.
O fato, todavia, é que, a despeito de altos e baixos, o mundo colheu excelentes frutos desse período, com um crescimento sólido na média do IDH global e com significativa redução da pobreza no mundo. Mais, ainda, o mundo ganhou muito em democracia e liberdade, após a derrota do socialismo, permitindo que antigas repúblicas satélites ganhassem autonomia e suas populações liberdade e prosperidade em diferentes sentidos.
Ressalto. Não me refiro, apenas, a crescimento econômico. Países como Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, Eslovênia, Croácia, Montenegro e República Tcheca, antes sob o cruel e opressivo jugo do socialismo e do domínio soviético, passaram a ocupar o time seleto dos países com “Alto Desenvolvimento Humano”. Além de obterem, em diferentes medidas, liberdade de imprensa e liberdade de expressão.
O mundo também observou um período de intenso comércio, intensificação das comunicações e integração global, com a eliminação de fronteiras, barreiras econômicas e criação de mercados comuns. A liberdade parecia ser um caminho sem volta, e a prosperidade estava logo ao lado.
Um dos países que, aparentemente, mais se aproveitou desse fenômeno foi a China. Inicialmente recebendo empresas estrangeiras, que lá se estabeleciam para aproveitar os baixos custos de produção, e posteriormente com o desenvolvimento de um parque industrial e científico próprio. A produção não tinha mais fronteiras, e a China passou a ser a fábrica do mundo, crescendo em parâmetros exponenciais. Investiu em pesquisa, desenvolveu tecnologia e passou a liderar o mundo em várias áreas, passando, nos últimos anos, a desafiar a hegemonia global dos Estados Unidos.
O crescimento da China foi o embrião do fim da “nova ordem mundial”. Embora tutelasse certas liberdades econômicas, nunca flertou sequer com a liberdade política, característica da ordem surgida nos anos 90. A China era a representação de uma nova potência, que buscava seu lugar no mundo, mas que não se identificava com os valores daquele mundo ocidental predominante. E nesse ponto, sua recente aliança com a secular inimiga Rússia parece ter sido o “coup de grace” na nova ordem mundial.
Rússia e China, juntas, derrotaram a nova ordem mundial. Expuseram as fraquezas do Ocidente e deixaram claro que a hegemonia americana é coisa do passado. O desafio derradeiro ocorreu na madrugada da invasão da Ucrânia. A qual inaugura a possibilidade de novos e futuros desafios, em Taiwan, no vale de Galwan, e sabe-se lá onde mais.
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A nova nova ordem mundial que se avizinha não haverá de ser cantada. Não será preciso nem sequer alertar a respeito de algumas coisas que eventualmente estejam “fora de ordem”. Neste novo mundo que nos aguarda, o que está fora de ordem não é escondido. Está escancarado para que todos vejam. De fato, a nova nova ordem mundial é muito diferente da antiga nova ordem mundial, que deixará saudades.
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