Com uma população superior a 200 milhões de habitantes e uma das maiores economias emergentes do mundo, o Brasil tem muitos desafios a enfrentar no setor público. Um deles diz respeito às pessoas que fazem funcionar a engrenagem do sistema: os servidores públicos. Não estou falando aqui de salários nem infraestrutura adequada. Eu me refiro à saúde emocional destes trabalhadores.
Problemas de saúde emocional e mental crescem em todo o mundo. A pandemia da Covid-19 intensificou os casos de estresse, ansiedade e depressão, evidenciando ainda mais a fragilidade do sistema em relação a eles.
No mundo corporativo, o olhar das empresas para o bem-estar dos funcionários vem se tornando mais apurado a cada dia. Nos órgãos públicos, não pode ser diferente, afinal, trabalhadores em geral, independentemente de onde atuam, estão suscetíveis a ficar com a saúde emocional e mental abalada.
No setor privado, crescem os investimentos em equipes de recursos humanos e em programas de bem-estar. No setor público, quem, afinal, cuida da saúde emocional dos que trabalham para o país funcionar e para os cidadãos serem bem atendidos? Eis que se evidencia, aí, a necessidade de os gestores públicos desenvolverem esse olhar para as pessoas.
A engrenagem estatal se move em meio a uma conjuntura socioeconômica e política em permanente mudança. Os desafios da máquina pública brasileira são multifacetados. Que os servidores enfrentam, diariamente, uma série de questões burocráticas, é fato. Além disso, costumam existir desafios como sobrecarga de trabalho; equipes que, muitas vezes, dependem de concurso público para serem reforçadas; choque de gerações, quando há concursos e os servidores antigos passam a conviver com colegas de uma nova geração; escassez de iniciativas que propiciem a atualização de pessoas e processos e falta de feedback positivo do gestor imediato que, muitas vezes por estar envolvido em tantas questões burocráticas, não promove o reconhecimento dos colaboradores que estão sob sua missão.
Tudo isso afeta diretamente o bem-estar dos servidores e impacta negativamente a eficácia e a eficiência da administração pública. Cria-se um ciclo de desmotivação, queda de produtividade, insatisfação e desajuste emocional. Os reflexos na saúde são inquestionáveis.
O problema existe, e a solução também é real, basta que seja reconhecida como prioridade. A mudança estrutural necessária é profunda. Trata-se, também, de uma mudança de cultura. O primeiro passo, entretanto, precisa ser dado e deve partir de gestores, em órgãos e autarquias, que tenham sensibilidade e empatia para reconhecer esse cenário e admitir que, se ele não for mudado, só tende a ficar pior. É sobre oferecer um ambiente de trabalho saudável e sobre desenvolver políticas voltadas para o bem-estar dos servidores.
Além da implementação de programas de apoio, é essencial investir na formação de líderes dentro do serviço público, capazes de identificar sinais de desgaste emocional em suas equipes e de agir proativamente. Uma liderança empática e humanizada, aliada ao reconhecimento da importância da saúde emocional, pode ser um divisor de águas.
É importante destacar, ainda, que cuidar da saúde emocional do trabalhador no setor público, assim como no setor privado, não é uma questão de benevolência, mas sim uma necessidade estratégica para o bom funcionamento do Estado. É fundamental que os gestores reconheçam isso e adotem iniciativas nesse sentido, para que possamos ter um serviço público mais resiliente, motivado e, acima de tudo, humanizado.
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