A polícia está presente em nosso cotidiano e inspira sentimentos ambivalentes. Vemos a atuação policial sendo mostrada pela mídia, ora exibindo policiais como heróis, ora como algozes. Outras vezes como protagonistas de tristes episódios de desequilíbrio emocional, policiais em “surto” são a personificação do risco para si e para outros.
Fato é que policiais não são avatares e nem máquinas, são indivíduos duplamente atingidos pela violência, como cidadãos e como profissionais, já que possuem uma atividade profissional que os expõe a inúmeras situações que podem gerar sofrimento psíquico, questão essa geralmente negligenciada pelo poder público e pela população a qual devem proteger.
Num contexto social onde ser policial é lidar com riscos, adversidades, pressões, desvalorização, descrédito e tantos outros fatores que podem contribuir para o adoecimento físico e mental, as instituições de segurança preferem não enfrentar a problemática, ou buscam individualizar os problemas, atribuindo ao policial a responsabilidade por seu adoecimento, estratégia essa que, além de perversa, gera um problema muito grave.
De acordo com o último relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em 2020, no Brasil, só em 2019, 65 policiais militares e 26 policiais civis cometeram suicídio. No mesmo ano, o número de policiais militares mortos em serviço foi de 56 e o de policiais civis, 16. Tal estudo aponta que morrem mais policiais por suicídio do que em serviço em nosso país. Os números podem ser ainda maiores já que não foram divulgados dados de todas as polícias, por falta de registro, subnotificação dos casos e ausência de um levantamento pelo poder público sobre o índice e as determinantes do adoecimento de policiais.
O tabu em torno das doenças mentais, o preconceito institucional em relação ao policial em sofrimento psíquico, a aura de "heroísmo" em torno da profissão e outras características da estrutura policial comprometem a prevenção. Além do estigma, policiais em situação de adoecimento mental têm medo de ter sua arma recolhida e de serem discriminados pelos próprios colegas, o que dificulta a busca por orientação profissional e apoio adequado.
Tudo isso é potencializado por uma cultura organizacional marcada pela “ideia de invencibilidade”, pelos estereótipos da “masculinidade tóxica’ e por uma mentalidade de que a missão policial deve ser cumprida a qualquer custo, geralmente sem condições de trabalho satisfatórias, com equipamento de segurança defasados e sem rede de suporte psicossocial.
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Somado a isso, é urgente efetivar nas instituições de segurança pública programas institucionais e continuados de atenção à saúde, com ações integradas, que sejam pautadas nas necessidades reais dessa categoria tão cobrada e criticada, mas com pouco acesso a serviços e cuidados que ajudam a reduzir os fatores de risco e aumentar os ferramentas de proteção dessa “profissão perigo”. Investir na polícia não é só comprar viaturas e armamentos modernos, é também cuidar do seu capital humano na perspectiva da saúde do trabalhador e da garantia de direitos. Policiais agradecem e a sociedade também!
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