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Sedentarismo nem sempre é uma escolha: como mudar de hábitos?

Ao analisarmos o contexto social, devemos nos conscientizar de que, enquanto sociedade civil e governos, precisamos promover iniciativas comunitárias e programas de saúde pública que permitam à maior parte da população adotar hábitos mais saudáveis

  • Jansem de Souza Bonfim É cardiologista
Publicado em 09/10/2024 às 15h04

Em meio à rotina corrida em que vivemos, encontrar momentos para o cuidado pessoal, como a prática de exercícios físicos, pode ser um desafio. Isso chama a atenção para o fato de que esse hábito envolve uma dimensão de autocuidado, mas também precisa estar incluído em políticas públicas e na forma como o Brasil se organiza como nação.

Afinal, além da responsabilidade de cada um em priorizar bons hábitos, é necessário questionar se a nossa sociedade está oferecendo condições e acesso para que os cidadãos possam realizar atividades de manutenção da saúde.

No início do século XX, a dieta era predominantemente baseada em alimentos frescos e menos processados, e as atividades físicas eram integradas ao cotidiano, como as caminhadas para o deslocamento diário e trabalhos braçais.

Com a industrialização e a urbanização ocorridas ao longo do século passado, houve uma grande mudança. O consumo de alimentos ultraprocessados, ricos em gorduras saturadas, açúcares e sódio, tornou-se comum, enquanto o sedentarismo ganhou espaço à medida que a tecnologia foi reduzindo a necessidade de esforços físicos.

Hoje, sabemos que essas mudanças têm um impacto direto na saúde cardiovascular. Estudos mostram que dietas ricas em ultraprocessados estão associadas a um maior risco de doenças cardíacas. O problema se agrava quando consideramos que esses alimentos, por serem produzidos em escala industrial e com longo período de validade, são mais baratos e, portanto, mais acessíveis para a maioria da população.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca que a alimentação inadequada é um fator significativo para o aumento das doenças cardíacas, junto ao sedentarismo. Um estudo publicado na revista científica The Lancet revela que a inatividade física é responsável por 9% das mortes precoces no mundo.

E aí encontramos outro problema: além de os ultraprocessados serem economicamente mais atrativos, uma grande parte da população enfrenta dificuldades para incluir a prática de atividades físicas no seu cotidiano.

A OMS recomenda pelo menos 150 minutos de atividade física moderada por semana, enquanto pesquisas mostram que seguir essas diretrizes pode reduzir o risco de doenças cardíacas em até 40%. Porém, para muitas pessoas, encontrar esse tempo em uma rotina que inclui emprego, estudos, tempo de deslocamento, cuidados com a família e outros afazeres pode ser simplesmente inviável.

No Espírito Santo, dados recentes mostram que a taxa de mortalidade por doenças cardiovasculares ainda é uma preocupação significativa. Segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), as doenças cardíacas continuam a ser a principal causa de morte no Estado, evidenciando a necessidade urgente de promover hábitos mais saudáveis.

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Corrida. Crédito:

Os cuidados com a saúde cardiovascular dependem, obviamente, de iniciativas pessoais. No entanto, ao analisarmos o contexto social, devemos nos conscientizar de que, enquanto sociedade civil e governos, precisamos promover iniciativas comunitárias e programas de saúde pública que permitam à maior parte da população adotar hábitos de vida mais saudáveis.

Fazem parte desse esforço, por exemplo, a construção e manutenção de ciclovias seguras e bem conservadas, que convidem os usuários a realizar seus deslocamentos; programas de incentivo à atividade física no trabalho; e incentivos à prática de atividades em espaços comunitários, supervisionados por profissionais da área da saúde.

Reverter os números de óbitos relacionados ao sedentarismo é uma tarefa conjunta de governos e sociedade civil. E é o caminho que o Brasil deve trilhar para reduzir seus índices de doenças cardiovasculares.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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