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É vice-governador do Espírito Santo

Segurança hídrica: como preparar as cidades para o futuro

A diversificação da matriz hídrica, combinada com tecnologias avançadas de reúso e dessalinização, deve ser encarada como prioridade. Somente assim será possível alinhar segurança hídrica, sustentabilidade ambiental e desenvolvimento econômico

  • Ricardo Ferraço É vice-governador do Espírito Santo
Publicado em 08/02/2025 às 02h00

O mundo enfrenta duas forças transformadoras: as mudanças climáticas, com eventos extremos cada vez mais frequentes, e as transformações digitais, que alteram hábitos e aceleram nossa economia. Nesse contexto, as cidades enfrentam um desafio histórico de adaptação.

Cidades que surgiram ao longo de séculos de desenvolvimento precisam se preparar para o futuro, especialmente no que diz respeito à gestão hídrica. Grandes desafios, como enchentes e escassez de água, são realidades que as cidades enfrentam atualmente.

As enchentes em regiões do Rio Grande do Sul e aqui em Mimoso do Sul no ano passado, por exemplo, evidenciaram de forma emblemática o desafio enfrentado pelas cidades brasileiras ao lidar com eventos extremos. Por outro lado, grandes cidades enfrentam a escassez hídrica, mesmo em regiões onde esses problemas eram inéditos.

O Espírito Santo também sofre com ciclos de enchentes e escassez hídrica, impactando a população, a agricultura e a indústria. Essa dualidade reforça a urgência de preparar nossas infraestruturas e diversificar a matriz hídrica, a fim de reduzir vulnerabilidades e garantir a segurança hídrica em um cenário de mudanças climáticas.

Países e cidades ao redor do mundo já demonstraram que soluções inovadoras são possíveis. Na Califórnia, sistemas de reúso de água tratam bilhões de litros de esgoto para uso industrial e agrícola, aliviando a pressão sobre os recursos naturais. Em Barcelona e em centenas de cidades litorâneas, a dessalinização é adotada como uma solução complementar na matriz hídrica.

Essa tecnologia, consolidada como uma opção viável para o abastecimento, passou a ter viabilidade econômica com inovações que tornam sua implementação competitiva. Um exemplo de excelência no planejamento hídrico é Singapura, que combina reúso, dessalinização e captação inteligente de água para alcançar autossuficiência.

Essas tecnologias, já aplicadas em diversas cidades, evoluíram significativamente. O custo energético para dessalinizar água do mar, por exemplo, caiu drasticamente nos últimos anos. Segundo a Associação Latino-Americana de Dessalinização e Reúso de Água (Aladyr), para dessalinizar água do mar e produzir 100 ml de água potável, o consumo de energia é menor que o de uma busca no Google ou equivalente ao consumo energético de uma geladeira, o que seria suficiente para abastecer uma família de quatro pessoas. Esses avanços são possíveis graças às inovações em eficiência energética.

No Espírito Santo, a Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan) tem sido protagonista na adoção de tecnologias modernas. Foi pioneira ao promover a primeira concorrência pública de reúso de água para a indústria, permitindo que as empresas utilizem água reciclada em vez de fontes naturais. Esse modelo é emblemático, pois a água de reúso será utilizada pela indústria, contribuindo para a preservação de rios e aquíferos.

Paralelamente, a Cesan acompanha de perto os avanços na dessalinização, tecnologia que já está sendo aplicada em regiões litorâneas do Brasil, por indústrias aqui no Estado e está em estudos de viabilidade para demanda por uma solução hídrica complementar na Região Metropolitana da Grande Vitória, no município de Anchieta e na orla de Aracruz.

Torneira pingando: a ordem é economizar água no ES
Torneira pingando: a ordem é economizar . Crédito: Divulgação

Não se pode ignorar que a água vai além do consumo humano. Ela é essencial para a economia, especialmente em setores como agricultura, indústria e turismo. Sem segurança hídrica, o custo econômico é imenso, afetando desde a produção de alimentos até a atratividade turística e a instalação de novas indústrias.

Pensar nas nossas cidades e nas políticas públicas de adaptação exige articulação política e visão estratégica. É fundamental o planejamento integrado, parcerias robustas e infraestruturas inteligentes. Não podemos mais adiar a implementação de soluções que garantam a resiliência de nossas cidades diante das mudanças climáticas.

A diversificação da matriz hídrica, combinada com tecnologias avançadas de reúso e dessalinização, deve ser encarada como uma prioridade. Somente assim será possível alinhar segurança hídrica, sustentabilidade ambiental e desenvolvimento econômico, assegurando um futuro melhor para as próximas gerações. O Brasil, com sua vasta costa e desafios particulares, tem todas as condições para liderar essa transformação.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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