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Sem terremotos e furacões, Brasil precisa encarar as tragédias das chuvas

Segundo a ONU, o Brasil aparece entre os 15 países do globo com a maior população exposta ao risco de inundação. A informação é de um relatório documentando catástrofes naturais das últimas duas décadas na América Latina e Caribe

  • Claudio Antonio Leal
Publicado em 09/03/2020 às 17h46
Nível do Rio Iconha  sobe e invade casas em Iconha. Crédito: Marconio Matos
Nível do Rio Iconha  sobe e invade casas em Iconha. Crédito: Marconio Matos

No mês de janeiro, o Espírito Santo foi assolado com fortes chuvas que ocasionaram graves consequências do ponto de vista humano e material, principalmente nos municípios de IconhaAlfredo ChavesVargem Alta e Rio Novo do Sul. Sendo que o governo federal reconheceu o estado de calamidade pública nesses quatros municípios.

Sempre que nos deparamos com algum desastre natural, a sociedade ferida e indignada questiona com as seguintes perguntas: o que poderia ter sido feito para evitar essa tragédia? O que podemos fazer para que tal fato não ocorra mais?

Segundo a ONU, o Brasil aparece entre os 15 países do globo com a maior população exposta ao risco de inundação. A informação é de um relatório  documentando catástrofes naturais das últimas duas décadas na América Latina e Caribe.

Um estudo realizado pelo Banco Mundial e o Centro de Estudos e Pesquisas sobre Desastres, vinculado à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), revela que o Brasil perdeu R$ 182,8 bilhões com desastres naturais entre 1995 e 2014. Isso significa que secas, inundações, vendavais e outros desastres custaram ao país cerca de R$ 800 milhões mensais. E pelo visto esses valores absurdos continuam literalmente sendo jogados pelo ralo.

SEM PERIGOS NATURAIS EXTREMOS

Na realidade, temos no Brasil uma falsa sensação de segurança pelo fato de não estarmos expostos a perigos naturais extremos (terremotos, tsunami, vulcões e furacões). Segundo Rafael Schadeck, consultor do Banco Mundial e pesquisador da UFSC, os desastres naturais mais comuns no Brasil são aqueles do grupo climatológico relacionados à estiagem. Eles representam 48% dos registros e ocorrem com maior frequência nas regiões Nordeste e Sul do país.

Em segundo lugar, vem o grupo hidrológico, que são os desastres relacionados ao excesso de chuvas. E eles ocorrem com maior frequência na Região Sudeste do país, representando 39% da pesquisa. Também são levados em conta geadas, vendavais e outros eventos menores.

Não temos nenhum furacão Katrina nem tão pouco tsunamis, porém temos outros sérios problemas, tais como um controle urbano muito ineficiente e desordenado, uma ocupação humana inadequada e implantada nas margens de córregos e rios ou em encostas desprotegidas que ocasionam tragédias que cada vez mais se tornam numa nefasta rotina. Tudo isso associado a um péssimo planejamento governamental.

Outros fatores relevantes estão relacionados ao desmatamento da mata ciliar e falta de consciência ambiental da nossa sociedade com o descarte indiscriminado de lixo nas ruas e nos rios ocasionando entupimento das redes pluviais e de esgoto.

REDUÇÃO DE DANOS

O UNISDR (Escritório das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres) tem como missão contribuir para a construção de comunidades resilientes a desastres por meio da promoção de uma maior sensibilização sobre a importância de incluir a gestão integrada do risco de desastres como um componente central do desenvolvimento sustentável, reduzindo as perdas humanas, sociais, econômicas e ambientais causadas por desastres socioambientais.

De acordo com a UNISDR, várias ações podem ser planejadas e implementadas com a participação de governo e sociedade civil, algumas são simples, outras são mais estruturantes.

Os dez pontos essenciais da campanha incluem a participação de grupos de cidadãos e da sociedade civil, a construção de alianças locais, a garantia de que todos os departamentos compreendem o seu papel para a redução do risco de desastres e que a informação e os planos estejam disponíveis para o público.

Outras medidas a serem tomadas são o investimento em infraestrutura crítica, tais como drenagem de enchentes, melhoria da segurança escolar e centros de saúde, reforço de edifícios e regulamentos de uso do solo, fornecimento de treinamento para a redução do risco de desastres nas escolas e nas comunidades locais, proteção dos ecossistemas e instalação de sistemas de alerta precoce e de capacidades de gestão de emergência.

A natureza é justa e perfeita, porém os homens precisam entendê-la e respeitá-la.

O autor é geólogo e mestre em Hidrogeologia e consultor do Instituto Brasileiro do Mar-IBRAMAR

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