Autor(a) Convidado(a)
É médica psiquiatra e presidente da Associação Psiquiátrica do Espírito Santo (Apes)

Suicídio: estamos dispostos a oferecer um espaço seguro para as pessoas se expressarem?

O Setembro Amarelo nos convida a refletir sobre nossas atitudes em relação ao sofrimento do outro.  Estamos atentos aos sinais de que alguém pode estar passando por uma crise? A prevenção do suicídio envolve toda a sociedade

  • Lícia Fabris Colodete É médica psiquiatra e presidente da Associação Psiquiátrica do Espírito Santo (Apes)
Publicado em 26/09/2024 às 15h12

Como já é de conhecimento de muitos, setembro é o mês dedicado à prevenção do suicídio. Organizada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), com a parceria do Conselho Federal de Medicina (CFM), a campanha do Setembro Amarelo é de extrema relevância para a saúde pública.

De causa multifatorial, o suicídio é um desfecho trágico, que na grande maioria das vezes pode ser evitado. Como presidente da Associação Psiquiátrica do Espírito Santo (Apes), alerto para a importância de discutirmos o tema de maneira clara, acessível e sem tabus, com a seriedade que ele exige.

Dados oficiais apontam que uma a cada 100 pessoas no mundo morrem por suicídio, mas presume-se que este número seja ainda maior, pois a subnotificação é uma realidade em muitos países, incluindo o Brasil. Infelizmente, a saúde mental é ainda muito estigmatizada.

O preconceito atrapalha muito, e às vezes ele se manifesta através de posturas opostas, como a proibição ou a banalização. Calar ou falar sem comprometimento com o que se diz são atitudes igualmente perigosas quando estamos diante da problemática do suicídio. Para além da crise suicida, precisamos discutir sobre as condições que levam uma pessoa a cometer esse ato. Ou seja, proibir e banalizar em nada nos instruem.

Num mundo marcado pela velocidade e pela aparência, em que demandas pessoais e profissionais se sobrepõem e se confundem, a saúde mental assume um importante protagonismo. Sabemos que o suicídio está quase sempre relacionado a alguma condição psiquiátrica, de modo que a identificação precoce e a conduta adequada estão associadas ao bom prognóstico.

Ou seja, o acesso a tratamento salva vidas. Portanto, é fundamental o debate continuado sobre o tema, para que possamos sensibilizar a população e também incentivar políticas efetivas de prevenção ao suicídio.

Uma das propostas do Setembro Amarelo é de chamar atenção para a importância da saúde mental na saúde como um todo. Na verdade, ela é determinante. Daí a necessidade de encorajarmos aqueles que estão passando por dificuldades emocionais a se expressarem, a procurarem auxílio.

O isolamento só contribui para o agravamento de estados depressivos e ansiosos, que podem culminar em comportamento suicida. Neste ano de 2024, o lema da campanha é “se precisar, peça ajuda!”. Não é vergonhoso procurar por apoio psicológico ou psiquiátrico. Reconhecer a necessidade de ajuda é um ato de coragem e de cuidado consigo mesmo.

A busca por tratamento deve ser incentivada por todos nós. A família, os amigos e a comunidade têm papéis fundamentais nesse processo. Não devemos minimizar a dor de alguém que está passando por um momento difícil. Ouvir sem julgamentos e mostrar disponibilidade para apoiar podem fazer uma grande diferença.

Depressão
Depressão . Crédito: Pixabay

O Setembro Amarelo nos convida a refletir sobre nossas atitudes em relação ao sofrimento do outro. Estamos dispostos a oferecer um espaço seguro para que as pessoas possam se expressar? Estamos atentos aos sinais de que alguém pode estar passando por uma crise? A prevenção do suicídio envolve toda a sociedade e cada um de nós pode fazer a sua parte.

Neste mês, a cor amarela é usada como um símbolo de esperança e cuidado. Que possamos nos engajar em ações que contribuam para a saúde mental de todos ao nosso redor. Afinal, o que está em jogo são vidas — vidas que podem ser salvas por meio de informação, acolhimento e suporte.

Se você ou alguém que você conhece está passando por um momento difícil, não hesite em buscar ajuda. O apoio está mais próximo do que você imagina, e sua vida vale muito.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

A Gazeta integra o

Saiba mais
Depressão suicídio Saúde mental Psiquiatra

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.