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É psiquiatra e diretor técnico da Green House – Grupo ViV

Tarja preta: uso irresponsável de medicamentos e os riscos à saúde

Muitas vezes usados de forma irresponsável com objetivos recreativos para obtenção de efeitos euforizantes, esses remédios são potencialmente causadores de dependência química

  • Edson Kruger Batista É psiquiatra e diretor técnico da Green House – Grupo ViV
Publicado em 08/12/2024 às 08h00

Indicados para o tratamento de vários tipos de transtornos psiquiátricos – ansiedade, fobia social, transtornos de pânico, sono, humor e psicóticos, além de em casos de desintoxicação de álcool e outras drogas, epilepsia e relaxamento muscular –, os benzodiazepínicos, desenvolvidos na década de 60, são atualmente os remédios mais consumidos do mundo, estando entre os cem mais prescritos.

Estima-se que 50 milhões de pessoas os usem, sendo a maior parte mulheres com mais de 50 anos com doenças crônicas. Estatísticas mostram que 10 a 15% dos adultos norte-americanos já usaram uma vez ao longo de um ano e 2% da população usam de maneira crônica, muitos inclusive sem prescrição médica. No Brasil, dados de 2005 indicam que 5,6% da população consumiu benzodiazepínicos alguma vez na vida dentre quase 8 mil entrevistados nas 107 maiores cidades brasileiras.

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Medicamentos tê risco de intoxicação se não utilizados corretamente, com prescrição médica. Crédito: Freepik

Muito conhecidos devido a sua popularização, com eles são feitas até piadas. Quem nunca ouviu falar de diazepam, alprazolam, clonazepam e lorazepam em contextos cômicos? Fato é que seu uso não tem nada de divertido. Afinal de contas, tais medicações possuem propriedades sedativas, ansiolíticas, hipnóticas, amnésticas, antiepiléticas e de relaxamento muscular que precisam ser analisadas com rigor antes da prescrição médica.

Isso porque os chamados “tarja preta”, muitas vezes usados de forma irresponsável com objetivos recreativos para obtenção de efeitos euforizantes, são potencialmente causadores de dependência química. Mesmo nos pacientes com indicação médica, a sua retirada após a melhora é difícil e deve ser gradual, não traumática, bem acompanhada e com o objetivo de buscar outras alternativas terapêuticas.

Para os pacientes, familiares e terapeutas, trata-se de um momento desafiador por precisarem lidar muitas vezes com a síndrome da abstinência caracterizada por ansiedade, insônia, crises convulsivas, etc. Apesar da melhor opção ser sempre ambulatorial, muitas vezes é necessária até a internação hospitalar para a interrupção dos benzodiazepínicos. Nesse momento, o acompanhamento psicológico também tem importância vital e terapias de grupos ajudam.

Outro ponto de atenção para o abuso dos benzodiazepínicos são os seus efeitos colaterais. Há evidências de que os administrados logo após situações traumáticas predispõem o transtorno de estresse pós-traumático, sendo por isso contraindicado. Além disso, trazem prejuízos cognitivos e, quando usados com álcool ou por pacientes com transtorno de personalidades, por exemplo borderline, geram desinibição.

O risco do abuso deliberado ainda se deve ao seu efeito tóxico quando não tomados na dosagem correta. Deve-se levar em conta que a mortalidade nos dependentes é três vezes maior do que na população em geral, especialmente entre idosos. A intoxicação pelo uso frequente é rara, mas problemas graves ocorrem com a concomitância com álcool, antidepressivos e barbitúricos. Os sintomas de intoxicação são: sonolência, intenso relaxamento muscular, diminuição de reflexos e confusão mental. Já os chamados sedativos-hipnóticos também apresentam riscos, apesar de serem mais seguros por terem menor potencial de dependência. Contudo, seu uso não deve ultrapassar quatro semanas na maioria dos casos.

Diante desse quadro, o que se conclui é que medidas de controle por parte dos serviços de saúde devem ser implementadas, dentre elas a constante educação médica, e comportamentos responsáveis por parte dos pacientes devem ser estimulados.

Se você se enquadra nesse contexto, busque uma avaliação médica e não espere o quadro se agravar. Ter acesso ao tratamento adequado é fundamental para a melhora da qualidade de vida.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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