Cerca de 86% da população brasileira padece de alguma doença psiquiátrica. O alto número pode parecer incomum, mas o fato é que pouco se discute sobre saúde mental no Brasil. Ao mesmo tempo, se levarmos em conta que até o presidente Lula, em um evento recente, classificou equivocadamente transtornos mentais como "desequilíbrio de parafuso", fica evidente que o assunto precisa ser discutido com maior minúcia.
Com um número tão grande de pessoas com transtornos mentais no país, não seria difícil encontrar esse contingente ativo no mercado de trabalho. De acordo com dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e Organização Internacional do Trabalho (OIT), no final de setembro de 2022, estima-se que 15% dos trabalhadores possuem algum transtorno mental.
Para a economia global, de acordo com os dados divulgados pela OMS e a OIT, diagnósticos de depressão e ansiedade custam cerca de US$ 1 trilhão todo ano. As entidades cobraram, de forma inédita, que empregadores e empresas apliquem ações concretas sobre saúde mental no âmbito corporativo. É possível solucionar esse problema que já é crônico?
Primeiramente, é preciso identificar quais são os fatores que levam ao adoecimento mental ou à piora dos transtornos no contexto profissional. Algumas das práticas indevidas são: más condutas de gestão e comunicação com os funcionários, horários de trabalho inflexíveis ou irregulares, políticas inadequadas de saúde e segurança. Somam-se a esses fatores os assédios moral e psicológico.
O segundo passo é promover ações afirmativas para a saúde mental da equipe: reinar gerentes e pessoas com cargos de chefia para a prevenção de situações desnecessariamente estressantes, identificar os sujeitos que estão psicologicamente afetados e tentar determinar quais são os gatilhos que criam angústia e sofrimento.
Importante também que situações de assédio moral e psicológico deixem de ser encarados como “cultura corporativa”. Gestores e chefes, que geralmente são os assediadores, por estarem em uma posição de poder, precisam ser punidos adequadamente e responder por seus desvios de conduta.
Além disso, é necessário que os limites entre o trabalho e o descanso voltem a ser respeitados. Com o uso em larga escala da internet, redes sociais e e-mail, muitas empresas passaram a acreditar que o funcionário precisa estar disponível 24 horas por dia, sete dias por semana. O descanso é essencial para a saúde mental, e a falta de delimitação para esses momentos pode levar ao adoecimento.
O presidente Lula reconheceu o erro em sua fala e se desculpou. É urgente que o estigma com a saúde mental acabe também por parte de patrões e colegas de trabalho. Por que o trabalhador com transtorno mental ainda passa por situações vexatórias para garantir seus direitos? É hora de encarar o adoecimento mental com a mesma importância de qualquer outro diagnóstico.
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