Escrevo hoje este artigo com uma emoção diferente, a de estar vivendo o fim de um ciclo. Os últimos anos, especificamente de 2019 a 2022, presenciamos um profundo ataque à educação e à ciência em nosso país. Como já conversamos por aqui em outras ocasiões, temos que lembrar que as universidades federais sofreram diretamente com esses ataques, principalmente com cortes no seu orçamento e com as intervenções na autonomia da gestão superior.
Foi o caso, aqui na Ufes e em outras instituições, com a não nomeação de reitores e reitoras que tiveram suas eleições democráticas violadas. Como todos sabem, fui alvo de uma dessas injustiças antidemocráticas, tendo sido eleita reitora e não nomeada pelo ex-presidente.
A existência dos períodos ditatoriais, que impediram a participação política de cidadãos na escolha de seus representantes, é uma infeliz marca em nosso país. Essa restrição à vontade direta da população na escolha de seus representantes pelo voto fez com que o sistema estabelecido na Constituição de 1988 ganhasse uma enorme importância. E por isso é tão violento o não respeito ao resultado das urnas, por isso é doloroso, pois nos remete a esse passado de silenciamento e obscurantismo.
Felizmente, com a recente eleição presidencial pudemos retomar a importância das universidades e da ciência para o centro do debate democrático. A vitória do presidente Lula fez com que o retorno do investimento nas universidades e institutos federais ganhasse espaço, principalmente com o novo PAC, que investirá bilhões de reais na recuperação das obras paradas nas instituições de ensino, pesquisa e extensão federais. Também estamos testemunhando o retorno à normalidade da democracia com o respeito ao voto da comunidade universitária.
E este dia 8 de novembro será marcante para a história da Ufes por várias razões. Pela primeira vez, em muitos anos, alguém que ocupa o cargo da alta gestão da universidade não será candidato. Pela primeira vez poderá não haver sucessores de uma mesma gestão, e isso já marca de forma inequívoca a profunda ferida que foi aberta na universidade. Pela primeira vez uma mulher poderá ser enfim, de fato e de direito, reitora da Ufes. Pela primeira vez estaremos votando não apenas em pessoas, mas no retorno da normalidade democrática, onde a pessoa que vencer nas urnas será nomeada.
Ciente disso, quero deixar aqui o registro para a história que não me furtei a ela. Busquei voto a voto, lutei pelo retorno da universidade pública que acredito: viva, pulsante, humanizada. Uma universidade que transforma vidas e o futuro das pessoas, das famílias e do nosso Estado. Uma universidade inclusiva e acessível. A Ufes a qual temos orgulho de pertencer. Independentemente do resultado da eleição, a democracia já é a grande vencedora.
Se a vontade da comunidade universitária tivesse sido respeitada em 2019, eu estaria aqui terminando agora meu mandato. Felizmente, quatro anos depois, temos a certeza de que o voto de estudantes, técnicos, técnicas e docentes será soberano e acatado pelo presidente da República e que, após a tempestade, teremos uma jornada mais suave. Vida longa à volta da democracia. Vida longa à nossa Ufes!
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