O impeachment é um instrumento previsto nas constituições de democracias presidencialistas. No entanto, usar ou deixar de usá-lo sempre tem graves consequências. Trump livrou-se do impeachment, e a democracia norte americana foi desrespeitada de uma forma impensável. Isso sem falar nos recordes de mortes pela Covid.
O que temos visto é que não dá certo, de jeito algum, usar a democracia para implantar o autoritarismo. Para não ir longe, a Venezuela nos prova isso. Trump, e qualquer outro clone, tem de encarar essa verdade.
A democracia representativa ainda é a melhor forma de governo que conhecemos. Cada eleitor significa um voto e cada voto tem de ser considerado. Por mais óbvio que seja, essa é a lógica do sistema e, portanto, eleições fraudadas não são base para nenhuma democracia que se preze. Mas inventar uma fraude que não existe é, per si, uma fraude.
Trump quis ganhar no grito. Quis ganhar na justiça. Quis ganhar na rebelião. Não conseguiu nada além de vergonha. O novo impeachment, no finalzinho do seu governo, poderia ajudar a melhorar a imagem da democracia norte-americana e até do Partido Republicano. Mas não mudaria nada. Se ele tivesse saído no primeiro processo de impeachment, a história seria outra e muita coisa ruim teria sido evitada.
O problema do autoritarismo é que ele requer sempre um “nós contra eles”, o que acirra as divergências e as transforma em ódio. Em uma democracia saudável, as divergências são tão normais quanto necessárias.
O presidente do Brasil escolheu Trump como super-herói. Vê fraude até na eleição que venceu e também na próxima. Por quê?
Sou da opinião que o recente impeachment de Dilma deveu-se, prioritariamente, à sua incapacidade de governar. Foi agradável? Não foi. Mas foi necessário interromper seu exitoso trabalho de destruição do país.
Na visão da maioria dos eleitores, foi também preciso acabar com o ciclo de governos petistas. Porém, não acabamos com o ciclo de maus governos.
O presidencialismo requer um governante que tenha capacidade e goste de governar; não um criador de casos, que fala o que não deve e nem pode e nem tem pudor em se contradizer (como Trump).
Um dia a eleição de 2022 chegará e aí veremos o que vamos querer para o Brasil. Até lá vamos aguentando. Quem sabe não teremos um candidato que mereça nosso voto? Vamos lutar por isso?
O autor é mestre em gestão de empresas pela UTAD/Portugal, pesquisador do Núcleo de Estudos do Futuro – NEF da PUC-SP e autor do livro "Covid-19: Antes e Depois".
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