Um fenômeno relativamente recente – começou na década de 90 e tem aumentado vertiginosamente nos últimos anos – está preocupando a classe médica em todo o mundo e, em especial, a dos profissionais que cuidam da saúde dos olhos.
Se até o século passado, prevaleciam doenças como obesidade, infarto, derrame, diabetes e câncer, agora já se tem uma nova enfermidade contemporânea: a miopia.
Em comum, entre todas essas doenças, estão fatores associados ao estilo moderno de vida. No caso das primeiras, na maioria das vezes, as causas são ligadas ao excesso de alimentos industrializados e álcool, ao sedentarismo e ao tabagismo, entre outras.
Já a miopia apresenta como propulsores dois fatores em especial: a exposição insuficiente à luz por conta da vida enclausurada em salas de aula e escritórios; e a leitura de perto (de muito perto), resultado do uso exagerado de smartphones e tablets. É a chamada “miopia urbana”. É certo que há predisposição genética em muitos casos, mas já se sabe que há decisiva influência do ambiente.
Hoje, cerca de 30% da população mundial (2,5 bilhões de pessoas) é míope. Daqui a pouco menos de 30 anos, em 2050, serão quase 50% ou 5 bilhões de homens e mulheres. Estimativas apontam, ainda, que, neste futuro não muito distante, pelo 10% das pessoas no mundo terão alta miopia (-5,00 DE ou maior).
Esses dados são especialmente preocupantes devido à associação desses problemas com a degeneração miópica e o descolamento de retina, o que resultaria em aumento dos índices de baixa visão e cegueira. Uma questão que precisa ser vista como um sério problema de saúde pública e com potencial impacto econômico.
Um agravante é que parte significativa da população mundial não tem acesso a atendimentos especializados e muito menos a óculos de grau, que poderiam corrigir a enfermidade.
As principais consequências serão, invariavelmente, diminuição da produtividade, baixo rendimento escolar, maiores riscos de acidentes de trabalho, rodoviário e outros. E isso sem contar a perda de qualidade de vida associada à visão deficiente e não corrigida.
É urgente, assim, que os governos implementem uma agenda de saúde e políticas públicas que levem em consideração o grande impacto negativo que a miopia pode acarretar na produtividade econômica, em médio e longo prazos. Somente dessa forma será possível contribuir para uma sociedade mais saudável e capacitada, e evitar que as próximas gerações só consigam ver o mundo através de lentes.
Já à população cabe se conscientizar para o problema. Consultas regulares com especialistas de saúde visual são imprescindíveis para receber orientações, detectar eventuais anomalias e fazer correções. E uma última dica: um pouco de luz natural todos os dias, em espaços abertos, de preferência longe de smartphones e tablets, pode fazer uma grande e valiosa diferença para a saúde dos olhos.
A autora é oftalmologista e representante no Espírito Santo da Sociedade Brasileira de Lentes de Contato (Soblec)
* Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta
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