Há mais de um ano, o mundo vive a pandemia da Covid-19. Entre restrições, lockdowns, fechamento de fronteiras e barreiras sanitárias, muitas vidas foram encerradas. No entanto, temos uma ciência e cientistas que não param de produzir conhecimento, artigos e pesquisas sobre a transmissão, prevenção e as várias manifestações clínicas durante e após os processos de infecção da nova doença. Já temos elucidado alguns mecanismos de contágio e transmissão. Com isso, medidas de proteção e as vacinas foram, em tempo recorde e obedecendo todas as etapas de certificação, feitas e já estão sendo aplicadas em todo o mundo.
Doenças novas geram consternação em todos. Muito embora tenhamos os praticantes de atividade física e atletas como privilegiados por um aparente porte saudável, eles também devem ter cuidado e atenção. Não é à toa que entidades médicas de todo mundo recomendam protocolos de retorno às atividades esportivas após a infecção.
Isso acontece pois a Covid-19 tem um tropismo pelo coração e pulmões, que podem gerar também alterações neurológicas, renais, vasculares e gastrointestinais. Ou seja, trata-se de uma doença sistêmica que pode se manifestar de formas diferentes.
Após um processo de infecção, mesmo sabendo do efeito benéfico do exercício físico, devemos sempre procurar orientação médica antes do retorno. Primeiro para entender se a infecção já findou, isso porque não devemos praticar exercícios em período de inflamação. Em segundo lugar, o médico deve entender qual foi e é a história clínica e a sintomatologia do seu paciente. Diante disso ele terá caminhos a percorrer, ou seja, solicitará alguns exames para afastar problemas que em último caso podem fazer o paciente sofrer um mal súbito. Aqui, falamos em um risco para atletas e alguns atletas amadores, pois o esporte de alto rendimento proporciona alterações adaptativas do coração, famoso coração do atleta, e se esse estiver minimamente inflamado, pode causar a morte súbita.
Outra manifestação que vem sendo notada nesses grupos e na população em geral é a fadiga, gerando nos atletas uma considerável queda de performance. Com isso, devemos ter claro em mente: não há protocolo 100% seguro, assim como não há teste 100% eficaz. O que devemos manter é o acompanhamento clínico e estar atentos a alterações agudas e tardias, além de usar os protocolos de prevenção que são eficazes, como distanciamento social, uso de máscaras e álcool gel.
Tenho a oportunidade de estar em frentes diferentes, dentro do segmento de medicina do esporte e cardiologia do esporte. Os atletas que acompanho são submetidos ao protocolo que instituímos e seguimos, baseados em evidências científicas, e no acompanhamento clínico diário. No meu trabalho de reabilitação cardiopulmonar metabólica, vemos um “boom” de pacientes pós-Covid que tem no exercício uma forma de melhorar a capacidade funcional, qualidade de vida e assim melhorar desfechos. E temos sucesso nos tratamentos de pacientes pós COVID com suas sequelas cardíacas, pulmonares, sarcopenia, fadiga e outras.
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Logo, devemos seguir condutas baseadas em evidências científicas e respeitar nosso paciente e/ou atleta sempre estudando. Estamos em período de aprendizagem, então tudo muda muito rápido. Estar atento é obrigatório. O que não muda é que a clínica deve ser soberana e o médico disposto a cuidar.
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