Parece distante, mas, em 2035, a antiga Vila do Espírito Santo, berço da nossa colonização, fará 500 anos, e retirar o município de sua letargia secular parece ser o maior desafio dos futuros prefeitos. O Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), em “Crescimento econômico e bem-estar nos municípios do Espírito Santo” (2010), analisou a evolução da renda per capita de todos os municípios capixabas e constatou que, mantidas as taxas de crescimento do PIB de Vila Velha no período 1999-2007, Vila Velha necessitaria de 282 anos para dobrar a sua renda per capita, enquanto Vitória, Serra, Cariacica, precisariam, respectivamente de 15, 11 e 20 anos.
Essa disparidade, em relação aos principais municípios da Grande Vitória, não é compatível com as potencialidades de Vila Velha, e precisamos criar as condições necessárias para evitar que as previsões do IJSN se concretizem. Para tanto, considero relevante fazer uma breve retrospectiva do Acordo de Washington, que alterou significativamente a forma de inserção internacional da economia capixaba.
Desde o início do século XX, havia o interesse dos governantes estaduais na criação de um corredor de exportação ligando o interior do Brasil aos portos capixabas e, em 1º de junho de 1942, em cumprimento ao Acordo de Washington, firmado com os Estados Unidos e Inglaterra, Getúlio Vargas promulgou o Decreto–Lei nº 4.532, que encampou as empresas Companhia Brasileira de Mineração e Siderurgia S/A e Itabira Mineração S/A, criando a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), que seria a responsável pela conclusão da Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM), abrindo novas perspectivas para a economia capixaba e, principalmente, a vila-velhense.
Coube ao interventor João Punaro Bley, com recursos do governo federal, a tarefa de construir, em Vila Velha, as instalações de embarque da CVRD, no morro do Pela Macaco. Na mesma década, iniciou-se a construção do Terminal de Granéis Líquidos e foram, ainda, construídas as instalações do Cais de Paul.
NOVO PORTO
Com o fim da 2ª Guerra Mundial, cessaram os contratos de exclusividade de exportação para os EUA-Inglaterra, e a CVRD conseguiu firmar, nos anos 60, com o Japão, um gigantesco contrato que exigiu a construção de um novo porto para receber navios de maior porte, abandonando, gradativamente, as suas operações nos terminais de Vila Velha.
A construção do Porto de Tubarão e, posteriormente, as usinas de pelotização, viabilizaram a instalação da Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), permitiram que os municípios de Vitória e Serra tivessem um crescimento acelerado, pois as âncoras Vale-CST atrairiam, com a criação dos Centros Industriais de Vitória (CIVITs), localizados no município de Serra, diversas empresas.
O Fundap, instituído no início dos anos 70, deu uma sobrevida as atividades portuárias em Vila Velha, principalmente às importações, movimentando nos seus terminais, praticamente, todas as cargas conteinerizadas, mas que perdeu grande parte da sua atratividade com a equalização da alíquota interestadual em 4%. No início deste século, muitas operações do setor de óleo e gás passaram a ser realizadas, também, nos terminais portuários de Vila Velha.
PLANEJAMENTO PARA O FUTURO
Essa retrospectiva mostrou que a atividade de comércio exterior teve, e ainda tem, um importante papel na economia local e que ela não deve ser desprezada pelos agentes econômicos. O tempo não para e precisamos fazer uma escolha: Vila Velha deve ser uma das mais importantes cidades do Espírito Santo ou ficar estagnada?
Se quisermos que o município mais antigo do Estado seja, no futuro, sustentável e desenvolvido, precisamos começar a planejá-lo e criar as pré-condições de atração de empresas ecologicamente responsáveis para elevar a taxa de investimento, gerar mais e melhores empregos, aumentar a arrecadação de impostos e a capacidade de investimento municipal em serviços públicos que melhorem a qualidade de vida dos cidadãos vila-velhenses.
Portanto, precisamos repensar as estratégias de desenvolvimento sustentável de Vila Velha, inserindo nesta agenda o debate sobre um grande projeto âncora: o novo porto de águas profundas.
Este vídeo pode te interessar
O autor é mestre em Economia e professor de Economia
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.