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É advogada criminalista

Violência contra a mulher: persistência de uma realidade inaceitável

Em primeiro lugar, é crucial reconhecer as falhas estruturais na aplicação e efetividade das leis que visam proteger as mulheres

  • Layla Freitas É advogada criminalista
Publicado em 28/07/2024 às 10h00

A divulgação do Anuário de Segurança Pública revelou um aumento alarmante na violência contra a mulher em 2023, destacando a persistência dessa tragédia social que continua a assombrar nosso país. Embora haja um reconhecimento crescente do problema, as estatísticas mostram que os esforços para mitigar essa violência ainda são insuficientes, principalmente devido a fatores complexos que perpetuam essa realidade.

Nos últimos meses, o Espírito Santo tem sido palco de uma sequência alarmante de crimes de violência contra a mulher, destacando uma realidade que exige ação imediata e incisiva das autoridades e da sociedade.

Em primeiro lugar, é crucial reconhecer as falhas estruturais na aplicação e efetividade das leis que visam proteger as mulheres. Embora existam marcos legais como a Lei Maria da Penha, muitas vezes, esses instrumentos não são implementados de maneira eficaz, deixando as vítimas sem a proteção adequada.

A burocracia, a falta de treinamento adequado para os profissionais envolvidos e a escassez de recursos contribuem para que a justiça não seja alcançada de maneira eficiente e ágil. Esse cenário desencoraja muitas mulheres a procurarem ajuda, temendo a revitimização ou a ineficácia do sistema.

A cultura patriarcal e machista enraizada em nossa sociedade é outro pilar que sustenta a violência contra a mulher. A sociedade brasileira, ao longo de sua história, foi moldada por uma visão que privilegia o masculino, relegando a mulher a um papel secundário.

Essa visão distorcida perpetua estigmas que desvalorizam as mulheres, legitimando comportamentos abusivos e violentos. A desconstrução dessa cultura requer tempo e empenho não apenas dos indivíduos, mas também das instituições e de toda a sociedade.

Além disso, a desigualdade econômica e social contribui para a vulnerabilidade das mulheres. Muitas vezes, a dependência financeira e a falta de oportunidades de emprego limitam as opções de saída de relações abusivas. O empoderamento econômico das mulheres é, portanto, um fator crucial para a redução da violência de gênero, permitindo que elas tenham mais autonomia e poder de decisão sobre suas vidas.

O papel da educação também é fundamental na transformação desse cenário. A implementação de programas educacionais que promovam a igualdade de gênero desde a infância pode ajudar a formar uma nova geração de indivíduos que respeitem as diferenças e rejeitem qualquer forma de violência. No entanto, é importante que essas iniciativas sejam contínuas e abrangentes, atingindo todas as camadas da sociedade.

Outro aspecto a ser considerado é o atendimento às mulheres que buscam ajuda. O acolhimento das vítimas deve ser uma prioridade, garantindo que sejam ouvidas e respeitadas em sua dor. O fortalecimento das redes de apoio, como casas abrigo e serviços de assistência social, é essencial para proporcionar um ambiente seguro onde as mulheres possam se recuperar e reconstruir suas vidas. Além disso, a capacitação de profissionais que atuam nesses serviços é vital para assegurar um atendimento humanizado e eficiente.

Violência doméstica: mulheres clamam para viver longe das agressões
Violência doméstica: mulheres clamam para viver longe das agressões. Crédito: Dragana_Gordic/Freepik

Apesar dos desafios, é importante reconhecer os avanços que foram feitos. A conscientização sobre a violência de gênero aumentou, e mais mulheres estão reconhecendo e denunciando abusos. No entanto, é necessário um compromisso contínuo e integrado de toda a sociedade para enfrentar essa questão. As mudanças não ocorrerão da noite para o dia, mas são necessárias ações consistentes e coordenadas para criar uma sociedade mais justa e igualitária.

A violência contra a mulher é um problema complexo que requer uma abordagem multifacetada. É essencial que a sociedade como um todo incluindo o Estado, o sistema judiciário, as instituições educacionais e a população em geral se una para combater esse flagelo. Somente através de um esforço coletivo e sustentado seremos capazes de criar um futuro onde todas as mulheres possam viver livres de medo e violência, exercendo plenamente seus direitos e potencialidades.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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