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É mestre em educação pela Ufes, professor, sambista e membro do Instituto Raízes

Violência não tem porta aberta no Sambão e em lugar nenhum

O que aconteceu foi um ataque com a morte de um jovem e também um ataque aos nossos ancestrais, às nossas baianas, crianças, passistas, enfim, um ataque a todas as escolas de samba e suas comunidades

  • Jocelino Júnior É mestre em educação pela Ufes, professor, sambista e membro do Instituto Raízes
Publicado em 03/02/2023 às 11h03

No último ensaio técnico desta semana, um jovem negro foi morto após uma confusão generalizada no Sambão do Povo. A situação registrada no palco do samba e da alegria das comunidades carnavalescas nos assustou e deixa uma marca triste na história do Sambão, que sempre foi lugar de paz, encontros e afeto.

Infelizmente, o que aconteceu é excepcional no meio do samba, mas podemos observar que nos últimos anos houve uma normalização e aumento da violência com o afrouxamento da lei de armas, facilitado pelo ex-presidente Bolsonaro ao alterar o texto do Estatuto do Desarmamento. O incentivo para que mais pessoas circulem armadas, sem dúvidas, gera mais violência e incita mais a cultura armamentista.

Nossas comunidades do carnaval vivem em territórios periféricos, que diariamente assistem cenas degradantes de mortes e tiroteios, e constantemente cobramos a atuação dos governos e políticas públicas nessas áreas, com mais oportunidades aos nossos jovens e suas famílias. Nunca houve uma situação semelhante como a registrada no Sambão do Povo, que é um lugar sagrado para nós sambistas, berço das escolas de samba.

Eu amo tanto o carnaval que aprendi com meus avós e meus pais a reverenciar a bandeira de uma escola de samba. É um amor tão grande que hoje não atuo só em uma escola, mas colaboro com as 19 escolas do Estado. Confio tanto na festa e a acho segura que levo meus filhos e não falto a nenhum dia de ensaio com meus amigos.

Sambão
Maisa Mariene e Jocelino Júnior no Sambão do Povo. Crédito: Thiago Soares/Divulgação

É o momento que a gente prepara tudo e ajusta os últimos detalhes para os desfiles, portanto o que aconteceu foi um ataque com a morte de um jovem e também um ataque aos nossos ancestrais, às nossas baianas, crianças, passistas, enfim, um ataque com tiro em todas as escolas de samba e suas comunidades.

O Carnaval e os desfiles de Escolas de Samba sempre tiveram em seu centro a cultura de paz, a solidariedade entre as comunidades e a cultura como valor, como pode ser visto em diversos sambas enredo. Por isso são inadmissíveis as cenas de violência nestes espaços de cultura. A violência não tem porta aberta no Carnaval e não pode ter em nenhum lugar.

Presto mais uma vez meus sentimentos e solidariedade aos amigos e família da vítima. 

Seguiremos juntos e juntas contra qualquer tipo de violência e pela cultura popular.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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