O Web Summit Lisboa 2024 consolidou-se como o palco principal para debates que moldam o futuro da tecnologia e da sociedade. Reunindo mais de 70 mil participantes de 160 países, o evento destacou temas cruciais como inteligência artificial, sustentabilidade, regulação tecnológica e o impacto das redes sociais. Em meio a esse cenário vibrante, o Brasil se destacou com uma presença recorde de startups e iniciativas de inovação, reforçando sua relevância global.
O Brasil teve uma participação histórica nesta edição, com mais de 500 startups apresentando soluções inovadoras em áreas como fintech, agritech e healthtech. Empresas brasileiras ganharam destaque nos debates sobre sustentabilidade e impacto, como a capixaba Wibag Conecta, que criou mochilas de conectividade móvel para facilitar o acesso à internet em eventos e ações promocionais em todo o Brasil.
Além disso, delegações governamentais e hubs como a ApexBrasil marcaram presença, atraindo olhares de investidores globais e fortalecendo o papel do Brasil como polo de inovação na América Latina.
O CEO do Web Summit, Paddy Cosgrave, elogiou a força da delegação brasileira, que superou, em número de startups, a presença portuguesa. A conexão com o ecossistema global foi intensificada desde que o evento chegou ao Rio de Janeiro em 2023, mostrando o crescimento e a maturidade do empreendedorismo nacional.
A inteligência artificial (IA) foi o tema mais explorado do Web Summit 2024. Nas principais palestras, líderes como Meredith Whittaker, presidente do Signal, alertaram sobre os riscos de vigilância associados à IA, enquanto Gabriele Mazzini, arquiteto do AI Act da União Europeia, destacou os desafios de implementar regulamentações eficazes sem sufocar a inovação.
A CEO da Agility Robotics, Peggy Johnson, trouxe uma visão prática ao apresentar o "Digit", robô que promete revolucionar a relação entre humanos e máquinas no ambiente de trabalho.
Um dos momentos mais impactantes do evento foi a discussão sobre inteligência geral artificial (AGI, na sigla em inglês), conduzida por Max Tegmark, físico e pesquisador do MIT. Tegmark destacou os riscos de uma AGI descontrolada, alertando para os perigos de criar sistemas que poderiam ultrapassar as capacidades humanas em todos os aspectos cognitivos. Ele comparou o avanço da AGI a "brincar com fogo", enfatizando que, sem uma governança global eficaz, estamos criando um potencial "gênio na garrafa" que pode escapar ao controle humano.
Tegmark também chamou a atenção para a necessidade urgente de limitar a pesquisa em AGI até que estruturas regulatórias robustas estejam em vigor. Ele defendeu que a sociedade deve priorizar IA alinhada aos valores humanos e adotar abordagens mais éticas e transparentes antes de avançar na criação de uma inteligência artificial verdadeiramente geral.
O impacto político e social das tecnologias também foi destaque nas discussões. A recente eleição presidencial nos Estados Unidos e o papel controverso de figuras como Donald Trump e Elon Musk alimentaram debates intensos. Musk foi mencionado por suas ações no X (antigo Twitter), que contribuíram para a desinformação em torno das eleições, enquanto Trump foi citado como um exemplo de como políticos utilizam as plataformas digitais para moldar narrativas.
Esses debates conectam-se diretamente ao retorno da Web3 como uma solução potencial para os desafios de centralização e manipulação de dados nas redes sociais. Muitos palestrantes defenderam que a Web3, com sua promessa de descentralização e maior controle do usuário, poderia ser a resposta para mitigar os problemas associados às big techs. Contudo, desafios relacionados à adoção em larga escala e à usabilidade ainda precisam ser superados.
Outro tema central foi a sustentabilidade, com startups como a Twelve apresentando soluções que transformam CO2 em combustível de aviação. Além disso, programas como Impact Startups e Women in Tech destacaram a importância da diversidade e da inovação para enfrentar os desafios climáticos e sociais. Mais de 400 startups de impacto participaram do evento, incluindo várias brasileiras, reforçando o papel da tecnologia como motor de mudanças positivas.
Uma característica marcante do Web Summit Lisboa 2024 foi a ênfase na inovação alinhada com a inclusão. Palestras destacaram tendências emergentes e a importância de alinhar a inovação com responsabilidade social. Thomas Wolf, da Hugging Face, enfatizou o futuro da inteligência artificial com modelos compactos, tornando a tecnologia mais acessível, enquanto Cristiano Amon, da Qualcomm, discutiu a transição da IA para dispositivos edge, permitindo experiências mais personalizadas e seguras. Essas discussões refletem uma preocupação genuína em garantir que as tecnologias avancem com segurança e estejam centradas no ser humano.
Para muitos brasileiros, o Web Summit foi uma oportunidade única para ampliar conexões globais e acessar novos mercados. O evento serviu como uma plataforma de lançamento para startups brasileiras conquistarem espaço no cenário internacional, enquanto investidores globais reconheceram o potencial de um ecossistema tecnológico em expansão.
O Web Summit Lisboa 2024 não apenas refletiu as principais tendências tecnológicas, mas também destacou as tensões e paradoxos que moldam o futuro da inovação. O evento trouxe à tona discussões cruciais sobre regulação, ética e o papel das tecnologias no contexto político e social.
Para o Brasil, a participação no evento simboliza um passo significativo rumo à consolidação como líder em inovação global, reforçando seu potencial de impactar o mundo com ideias criativas e soluções transformadoras.
Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.