O advogado Frederick Wassef anunciou na noite deste domingo (21) que deixará a defesa do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e pediu desculpas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se causou "algum dano de imagem".
"No dia de hoje [domingo], eu tomei a decisão, liguei para o senador Flávio Bolsonaro e falei: 'Flávio, eu não vou mais continuar no caso, eu vou sair do seu processo, no PIC [procedimento investigatório criminal] e vou substabelecer para outro advogado sem reservas iguais", disse o advogado em entrevista à CNN Brasil.
"O senador Flávio Bolsonaro não quis aceitar, pediu que eu ficasse, pediu, relutou e eu falei: 'Flávio, eu não vou me permitir ser usado para prejudicar o seu pai, presidente do Brasil, e te prejudicar."
Wassef disse que divulgará nesta segunda-feira (22) quem será o novo advogado de Flávio Bolsonaro.
No último dia 18, o ex-assessor de Flávio e amigo da família Bolsonaro Fabrício Queiroz foi preso em um sítio de Wassef, que advoga para o senador e também para o presidente, em Atibaia (SP).
Queiroz é investigado por participar de um suposto esquema de rachadinha no gabinete do filho do ex-presidente, quando Flávio era deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Em rede social, Flávio Bolsonaro afirmou que Wassef não é mais seu advogado no caso das rachadinhas investigadas na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Flávio fez o anúncio logo após o advogar afirmar à CNN que saía do caso.
"A lealdade e a competência do advogado Frederick Wassef são ímpares e insubstituíveis", escreveu o senador. As rachadinhas são investigadas em relação ao período em que o filho do presidente Jair Bolsonaro era deputado estadual.
"Contudo, por decisão dele e contra a minha vontade, acreditando que está sendo usado para prejudicar a mim e ao Presidente Bolsonaro, deixa a causa mesmo ciente de que nada fez de errado."
À Folha de S.Paulo, neste sábado (20), Wassef disse que foi vítima de uma armação para incriminar o presidente Jair Bolsonaro, de quem é amigo. "Não sou o Anjo", afirmou ao jornal, referindo-se ao apelido dado a ele pela família do presidente e que deu nome à operação desta semana do Ministério Público do Rio de Janeiro.
Foi a primeira manifestação de Wassef desde a prisão de Queiroz. Ele negou que tenha abrigado Queiroz e que tenha mantido contatos com sua família.
"Nunca telefonei para Queiroz, nunca troquei mensagem com Queiroz nem com ninguém de sua família. Isso é uma armação para incriminar o presidente."
O mandado de prisão contra Queiroz foi expedido pela Justiça do Rio de Janeiro --ele não era considerado foragido. O ex-assessor, que é policial militar aposentado, estava em um imóvel de Wassef, figura constante no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência, e em eventos no Palácio do Planalto.
Wassef não tem dito por que Queiroz estava em seu imóvel.
Em nota, o Ministério Público de São Paulo, que prendeu Queiroz em operação conjunta com a Polícia Civil paulista, afirmou que a operação da última quinta-feira "transcorreu nos estritos limites da lei. Filmada, a ação dos promotores e dos policiais contou com o acompanhamento de três representantes da Ordem dos Advogados do Brasil, observando-se, assim, todas as formalidades legais".
A Secretaria de Segurança Pública também afirmou em nota que a atuação do Departamento de Operações Policiais Estratégicas, em apoio à operação desencadeada por agentes do Ministério Público, foi acompanhada por membros da OAB, "garantindo todas as formalidades legais".
Wassef tem pelo menos nove procurações para advogar em nome do clã Bolsonaro. São três de Bolsonaro, três de Flávio e outras três assinadas pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).
Sua relação com os Bolsonaros extrapola, porém, o campo jurídico. Amigo do presidente há seis anos, Wassef deixa marca de sua influência até na estrutura do governo, já que foi ele quem apresentou o secretário-executivo do Ministério das Comunicações, Fábio Wajngarten, ao então deputado Jair Bolsonaro.
Wassef orgulha-se de ter sido, em sua versão, o primeiro a incentivar a candidatura de Bolsonaro à Presidência. O criminalista, que tomou a iniciativa de se aproximar de Bolsonaro em 2014, declara amor ao presidente --segundo ele, um homem puro, até ingênuo.
Internado para o tratamento de um câncer, o advogado assistiu a um vídeo de Bolsonaro em favor do controle da natalidade e decidiu telefonar para o gabinete do deputado. À secretária insistiu para que fosse atendido. Os dois marcaram um encontro que aconteceria meses depois.
O advogado é, por exemplo, apontado como o responsável pela opção de Bolsonaro pelo Hospital Albert Eistein quando o então candidato à Presidência foi esfaqueado em atividade de campanha em Juiz de Fora (MG), rejeitando oferta para que fosse transferido para o Hospital Sírio-Libanês.
Foi ele também quem ditou a estratégia jurídica de Flávio, vencendo uma queda de braço com o então presidente do PSL e também advogado Gustavo Bebianno, morto em março de 2020.
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