Publicado em 30 de outubro de 2022 às 23:50
Aliados de Jair Bolsonaro (PL) dizem não haver clima para contestação da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no pleito deste domingo (30), apesar de o atual presidente ter passado o mandato lançando dúvidas sobre o sistema eleitoral brasileiro e já ter ameaçado anteriormente não reconhecer o resultado das eleições.>
O ajudante de ordem do presidente, Mauro Cesar Cid, avisou a ministros do governo que tentaram falar com Bolsonaro que ele foi dormir. Logo depois, às 22h06, as luzes do Palácio da Alvorada foram apagadas. O chefe do Executivo evitou falar com aliados e não fez nenhum pronunciamento público sobre a derrota.>
Pouco depois de oficializada a vitória do petista, Bolsonaro se reuniu com seu candidato a vice, o general da reserva Braga Netto. Segundo assessores da Presidência, ele passou toda a tarde no Alvorada com seu filho Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que é senador e foi um dos coordenadores da campanha. O presidente não quis falar com ministros ao telefone nem recebê-los.>
Mais cedo, o presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes, disse que Bolsonaro o atendeu com "extrema educação e o agradeceu" quando ele disse que anunciaria o resultado. Moraes, como é praxe, ligou para ambos os candidatos, tanto para Bolsonaro como para Lula.>
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O principal sinal de que não haveria apoio a contestações foi o pronunciamento do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), um dos primeiros a reconhecer a vitória de Lula e a parabenizar o petista. "A vontade da maioria manifestada nas urnas jamais deverá ser contestada e seguiremos em frente na construção de um país soberano, justo e com menos desigualdades", declarou o deputado, que é aliado de Bolsonaro.>
Lira disse ainda que, da mesma forma que reafirmou a lisura, a estabilidade e a confirmação da vontade popular, não se pode "aceitar revanchismos ou perseguições, seja de que lado for".>
Ciro Nogueira, chefe da Casa Civil do governo Bolsonaro, seguiu para a residência oficial de Lira após o resultado das eleições, num gesto de alinhamento à posição do parlamentar. Nogueira publicou nas redes sociais uma foto abraçando Bolsonaro em que diz: "Para sempre ao seu lado, capitão".>
O procurador-geral da República, Augusto Aras, indicado por Bolsonaro e criticado por opositores por ter poupado o chefe do Executivo de investigações, seguiu o mesmo tom de Lira. Em nota divulgada no domingo, Aras parabenizou o petista pela vitória no segundo turno nas eleições. De acordo com o comunicado, o PGR também congratulou Bolsonaro "pela participação na disputa democrática".>
Apesar de dizerem reservadamente não haver clima para qualquer tentativa de reversão do resultado, aliados admitem que Bolsonaro é imprevisível. Aos poucos, alguns aliados foram conseguindo contato com o mandatário.>
O líder do governo, Ricardo Barros (PP-PR), telefonou para Bolsonaro para se solidarizar. O presidente não indicou se daria declarações públicas ou não no curto prazo. Auxiliares aguardam orientação sobre como proceder. Integrantes do seu primeiro escalão seguiram o silêncio do mandatário. O primeiro a falar foi Fábio Faria, ministro das Comunicações. "Você resgatou o nosso orgulho de ser brasileiro. Obrigado, Jair", disse nas redes sociais.>
Na eleição mais apertada desde a redemocratização, com pouco mais de 2 milhões de votos de diferença, aliados acompanharam em clima de tensão a apuração dos votos. Em alguns momentos, afirmavam ser possível a virada.>
Uma das principais decepções foi São Paulo. No estado, a campanha esperava uma distância de cerca de 15 pontos. Ao final, Bolsonaro teve pouco mais de dez pontos a mais de Lula, apesar de seu candidato Tarcísio de Freitas (Republicanos) ter sido eleito governador.>
Interlocutores do mandatário creditaram a perda da vantagem ao episódio envolvendo a deputada aliada Carla Zambelli (PL-SP), que perseguiu, no sábado (29), um homem com uma arma em punho na capital paulista.>
Zambelli postou uma mensagem afirmando que será "a maior oposição que Lula jamais imaginou ter." Foi um discurso semelhante ao do ex-juiz Sergio Moro (União Brasil), eleito senador pelo Paraná e que afirmou que estará na oposição em 2023, "respeitando a vontade dos paranaenses".>
Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente, afirmou em uma rede social que o resultado da eleição "traz muitas reflexões e a necessidade de buscar caminhos de pacificação de um país literalmente dividido ao meio". Ele também pediu serenidade.>
A senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF) também foi às redes sociais. Ele reconheceu a derrota do mandatário e disse que Bolsonaro deixa "um legado e formou líderes que hoje são senadores, deputados e governadores". "Perdemos uma eleição, mas não perdemos o amor pelo nosso país. Bolsonaro deixará a presidência da República em janeiro de cabeça erguida, com a certeza de dever cumprido e amado por milhões de brasileiros", escreveu.>
Na noite da última sexta-feira (28), após o debate com Lula na TV Globo, Bolsonaro disse que aceitaria o resultado das eleições, mesmo que ele não foi mais votado. A apresentadora Renata Lo Prete, no Jornal da Globo, perguntou: "Só para tirar a limpo, de uma vez por todas, candidato. Suas palavras significam que o senhor respeitará o resultado, seja ele favorável ao senhor ou adverso ao senhor?".>
Bolsonaro então respondeu: "Não há a menor dúvida. Quem tiver mais voto leva. É isso que é democracia".>
Na segunda metade do mandato, o atual presidente adotou retórica golpista contra sistema eleitoral e com ataques sem provas às urnas eletrônicas. No Brasil, nunca houve registro de fraude nas urnas eletrônicas, em uso desde 1996.>
Ao votar no dia 2 de outubro, no primeiro turno, Bolsonaro não respondeu se aceitaria os resultados das eleições. "Com eleições limpas, sem problema nenhum, que vença o melhor", disse, antes de votar.>
No último dia 5, o presidente questionou a apuração dos votos registrada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) no primeiro turno das eleições, em que acabou com 43,20% contra 48,43% do ex-presidente Lula.>
Na ocasião, o mandatário comparou a apuração do dia 2 com a das eleições de 2014, quando a então presidente Dilma Rousseff (PT) se reelegeu por uma pequena margem de votos. Bolsonaro afirma que o atual deputado Aécio Neves (PSDB-MG) venceu o pleito, tese já rechaçada pelo próprio tucano.>
Bolsonaro já afirmou em outras oportunidades que a alegada fraude no pleito de 2014 está comprovada pelo fato de Aécio e Dilma terem aparecido intercalados na liderança de votos recebidos por mais de 200 minutos. Na teoria propagada pelo presidente e que já foi desmentida pelo TSE, esse tipo de padrão matemático não poderia ocorrer de forma espontânea.>
Com informações de Marianna Holanda, Matheus Teixeira, Renato Machado, Danielle Brant, Julia Chaib e Marcelo Rocha>
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