Em depoimento à Polícia Federal, o ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, afirmou que não ouviu Jair Bolsonaro mencionar interesse na troca do superintendente da Polícia Federal do Rio de Janeiro e corroborou a versão do presidente sobre a reunião ministerial de 22 de abril.
Em depoimento nesta terça-feira (12), a que a "Folha de S.Paulo" teve acesso, ele disse ainda que, ao lado dos ministros Augusto Heleno (GSI) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), tentou "acalmar" Sergio Moro no dia 23 de abril, quando o ex-ministro pediu demissão após a reunião em que Bolsonaro o avisou que exoneraria Maurício Valeixo da diretoria-geral da PF.
À PF o ministro reforçou a versão de Bolsonaro sobre a reunião do dia 22 de abril, em que Moro diz ter sido ameaçado por Bolsonaro de troca na PF do Rio de Janeiro. Segundo o ministro, o presidente não se referiu a mudanças na polícia naquele encontro.
Braga Netto é um dos três ministros ouvidos nesta terça-feira (12) no inquérito que apura uma suposta interferência do presidente na Polícia Federal, sobretudo na Superintendência do Rio. Além dele, Heleno e Ramos foram ouvidos.
Segundo Braga Netto, após a reunião com Bolsonaro em 23 de abril, Moro informou a eles que "não concordava com a interferência específica" na PF e teria uma "biografia a manter". O ministro então relatou que Moro falou sobre a insistência de Bolsonaro para trocar o então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, mas que não se recorda de ter ouvido dele a intenção do presidente de alçar ao posto alguém com quem pudesse interagir. "Que para acalmar o ministro, o depoente e os demais ministros disseram 'vamos conversar'", diz trecho do depoimento de Braga Netto.
Em depoimento no último dia 2, Moro afirmou que, logo após avisar Bolsonaro que sairia do cargo com a mudança de comando da PF, ele se reuniu com o ministro da Casa Civil, Ramos e Heleno. Moro disse à PF que informou então "os motivos pelos quais não podia aceitar a substituição e também declarou que sairia do governo e seria obrigado a falar a verdade ". Ele afirmou ainda que os ministros ficaram de conversar com Bolsonaro.
Segundo o ministro da Casa Civil, "não houve o compromisso de demover" Bolsonaro da intenção de mexer no comando da polícia. Braga Netto disse ainda que não chegou a conversar com o presidente e que não teve uma iniciativa de buscar uma "solução intermediária" para o impasse em torno da direção-geral da PF.
O depoimento é considerado um dos principais elementos do inquérito relatado pelo ministro Celso de Mello, no STF, que pode levar à apresentação de denúncia contra o ex-ministro da Justiça ou contra o presidente Jair Bolsonaro.
Segundo pessoas com acesso à gravação da reunião ministerial de 22 de abril, Bolsonaro vinculou a mudança do superintendente da Polícia Federal do Rio de Janeiro a uma proteção de sua família. Ele então disse que, antes disso, trocaria todos da "segurança" do Rio, o chefe da área e até o ministro -na época, o da Justiça era Sergio Moro, que deixou o governo dois dias depois daquela reunião ministerial. Na interpretação de quem assistiu ao vídeo, as palavras foram um recado a Moro.
Braga Netto afirmou que, ao mencionar a troca da "segurança no Rio de Janeiro", no seu entender, o presidente tratava de sua segurança pessoal naquele estado, a cargo do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), e não à PF. Bolsonaro afirmou nesta terça que jamais mencionou PF ou investigação nas declarações daquela reunião.
O ministro disse ainda que se recorda que Bosonaro reclamou dos dados recebidos pelo Sisbin (Sistema Brasileiro de Inteligência). Braga Netto falou que os dados, compilados pela Abin (Agência Brasileira de Investigação) eram insuficientes.
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