Publicado em 12 de setembro de 2024 às 14:36
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O vereador Carlos Bolsonaro (PL) acessou o cofre que mantinha no Banco do Brasil nos mesmos dias em que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) adquiriu imóveis em transações com características suspeitas.>
Dados do banco mostram que o vereador e o senador Flávio Bolsonaro (PL), que também usava o serviço, acessaram 153 vezes as duas caixas mantidas no local ao longo dos 12 anos. A frequência média foi de uma vez por mês, embora exista casos de duas entradas num mesmo dia.>
As informações constam na investigação realizada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro contra Carlos sob suspeita de envolvimento num esquema de "rachadinha" em seu gabinete na Câmara Municipal. A apuração resultou numa denúncia contra sete servidores do vereador, mas o procedimento contra o filho do ex-presidente foi arquivado por falta de provas.>
A defesa de Carlos não comentou as informações, mantendo o posicionamento do vereador que disse receber com tranquilidade o arquivamento do procedimento contra ele. Declarou também indignação com a denúncia contra integrantes de seu gabinete. Em nota, Flávio disse que as transações imobiliárias não têm ligação com os acessos ao cofre.>
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A reportagem procurou a defesa de Bolsonaro, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.>
A existência de um cofre em nome de Carlos foi revelada pela Folha de S.Paulo em setembro de 2020.>
A participação de Flávio no serviço e a coincidência de acesso com as transações imobiliárias foi divulgada em julho pelo ICL Notícias e confirmada pela reportagem após o oferecimento da denúncia contra os servidores do vereador.>
O controle de acesso ao cofre consta no relatório da Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI) do MP-RJ. Ele oculta o nome de Flávio, mas é possível identificar as assinaturas semelhantes à do senador nos documentos. Ele confirmou ser o coproprietário do serviço.>
Os papéis mostram que o cofre foi acessado nos dias em que Bolsonaro comprou as duas casas que mantém no Condomínio Vivendas da Barra.>
A primeira foi adquirida em 21 de janeiro de 2009. Os documentos do BB mostram que Carlos acessou o cofre naquele dia às 11h25 e lá permaneceu por 20 minutos.>
Como a Folha de S.Paulo revelou em janeiro de 2018, a transação contém características suspeitas de lavagem de dinheiro pelos critérios do Coaf.>
Bolsonaro adquiriu a casa, segundo a escritura, por R$ 409 mil. Os antigos proprietários haviam comprado o imóvel quatro meses antes por R$ 580 mil, tendo um prejuízo de R$ 171 mil na operação. Especialistas apontam que transações do tipo podem ocorrer com pagamento "por fora", com dinheiro vivo.>
O segundo imóvel no condomínio foi adquirido em 13 de dezembro de 2012 por, segundo a escritura, R$ 500 mil. No mesmo dia, Carlos acessou o cofre as 10h17, tendo ficado lá por 14 minutos.>
O valor de compra é menos de um quarto do avaliado pela prefeitura para cálculos do ITBI (Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis). O tributo foi cobrado sobre uma estimativa de R$ 2,23 milhões. A divergência também é apontada como suspeita pelos critérios do Coaf.>
Carlos também acessou o cofre no dia 3 de fevereiro de 2011, mesmo dia em que o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) adquiriu um imóvel em Copacabana. Ele já admitiu que pagou parte dos R$ 160 mil da operação em dinheiro vivo.>
Há também acessos em data próxima de operação suspeita atribuída a Flávio. Segundo dados do controle do Banco do Brasil, ele acessou o cofre no dia 26 de novembro de 2012. Um dia depois, comprou dois imóveis numa transação com características suspeitas, também reveladas pela Folha de S.Paulo em janeiro de 2018.>
Ele adquiriu dois apartamentos em Copacabana de um mesmo vendedor por, no total, R$ 310 mil. Um ano depois, os dois imóveis foram vendidos com um lucro de R$ 800 mil - mais de 200%.>
O MP-RJ afirmou na acusação oferecida contra Flávio ter coletado provas que mostram que o senador pagou R$ 638 mil em dinheiro vivo "por fora" para lavar dinheiro obtido no esquema da "rachadinha" em seu antigo gabinete na Assembleia Legislativa. A denúncia acabou arquivada após a anulação de provas.>
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