A derrota de Fernando Haddad (PT) em São Paulo ao lado da vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), neste domingo (30), destrava a conversa para que o ex-prefeito ocupe um ministério no governo federal petista.
Durante a campanha, petistas evitaram falar sobre o tema, argumentando que o foco do partido era promover uma virada de Haddad sobre Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato apoiado por Jair Bolsonaro (PL).
Neste domingo, porém, Tarcísio venceu Haddad e se elegeu governador de São Paulo, de acordo com projeção do Datafolha. O instituto também projetou a vitória de Lula contra Bolsonaro.
Com Haddad, o PT teve esperança de chegar ao Palácio dos Bandeirantes pela primeira vez. O partido nascido no ABC paulista disputa o governo estadual há 40 anos, mas não foi competitivo em pleitos anteriores. Haddad e Lula fizeram uma campanha casada, com carreatas e comícios conjuntos.
Agora, a expectativa é a de que Haddad ocupe uma pasta na Esplanada dos Ministérios. Nos bastidores, seu nome foi aventado para Economia e Educação. Ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação nos governos Lula e Dilma Rousseff (PT), Haddad é formado em direito, tem mestrado em economia e doutorado em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP).
Lula foi cobrado ao longo da campanha a apresentar seu nome para o Ministério da Economia, mas resistiu. O petista chegou a afirmar que buscava um perfil político para o cargo, alguém aberto ao diálogo.
O deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) e o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, que fez campanha para Lula, também são nomes cotados para o posto.
A derrota deste domingo é a terceira consecutiva para Haddad, que perdeu no primeiro turno para João Doria (PSDB), em 2016, na tentativa de se reeleger prefeito de São Paulo. Em 2018, ao substituir Lula, que estava preso, na eleição presidencial, ele perdeu para Bolsonaro por 55% a 45% dos votos válidos.
Aliados de Haddad, no entanto, minimizam o fracasso eleitoral do ex-prefeito usando o argumento de que o partido saiu com um tamanho maior no estado. Na Assembleia Legislativa, o PT passou de 10 para 18 cadeiras.
Além disso, lembram que Haddad se redimiu ao vencer na capital com folga no primeiro turno, onde havia perdido em 2018.
A campanha de Haddad, no entanto, teve embates com a cúpula que coordenou a campanha de Lula. Os lulistas acreditavam que, no primeiro turno, Haddad deveria ter centrado fogo em Tarcísio para enfraquecer o palanque bolsonarista no estado e costurar uma aproximação com o governador Rodrigo Garcia (PSDB) no segundo turno.
O ex-prefeito fez o contrário e concentrou suas críticas no tucano. Ele argumentou que precisou se defender dos ataques da campanha do PSDB a ele.
No primeiro turno, Tarcísio teve 42,32% dos votos válidos; Haddad marcou 35,7%, e Rodrigo Garcia, 18,4% –o que representou uma derrota histórica para o PSDB, que governa São Paulo há quase 30 anos.
Na última semana, após uma série de reveses para Tarcísio, sobretudo relacionados aos desdobramentos do tiroteio em Paraisópolis, Haddad diminuiu sua diferença para o rival e apostou numa virada que não veio.
Como mostrou a reportagem, Haddad conseguiu articular uma ampla aliança em sua campanha, de Geraldo Alckmin (PSDB) a Guilherme Boulos (PSOL), tendo o apoio inclusive de parte dos tucanos da ala histórica do PSDB. A maior parte dos partidos de centro e de direita, porém, abraçou Tarcísio.
Mas o ex-prefeito, que teve a mais alta rejeição em todo o pleito segundo o Datafolha, não conseguiu contornar o expressivo antipetismo em São Paulo, principalmente no interior.
Na campanha, Haddad foi questionado pela gestão na prefeitura –ele cumpriu metade de suas metas e deixou 35 obras não finalizadas. O petista apresentou um legado de melhora nas contas públicas e repetiu suas realizações no MEC, com ampliação das universidades federais e a criação do Prouni.
Haddad ancorou sua campanha em propostas sociais, como aumento do salário-mínimo e ICMS zero para carne e cesta básica. Tarcísio apostou no perfil técnico, apesar de comprometer-se com a agenda bolsonarista, e fez um discurso mais alinhado ao mercado, prometendo geração de empregos e foco no social.
O petista teve, por um lado, acenos ao centro a partir da aliança com Alckmin e de encontros com a "Faria Lima progressista". Ele buscou diálogo com o interior, ressaltando sua raiz paulista em contraponto a Tarcísio, que é carioca e só veio para São Paulo por ocasião da eleição.
Mas Haddad também insistiu na agenda progressista, pregando mais impostos para os mais ricos e fazendo uma defesa do MST. Ele apontou que o movimento hoje é formado por pequenos produtores rurais "tão cidadãos quanto qualquer outro".
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta