ASSUNÇÃO, PARAGUAI - O blogueiro e influenciador Wellington Macedo, um dos três réus acusados de tentar explodir uma bomba em um caminhão próximo ao aeroporto de Brasília em 24 de dezembro, tentou se credenciar para cobrir a posse do presidente paraguaio Santiago Peña, em Assunção, nesta terça-feira (15). O presidente Lula (PT) estava no evento.
O bolsonarista fez a solicitação seis dias antes do evento, como jornalista independente, pelo El Pueblo Podcast. Avisado pelo governo brasileiro, porém, o governo paraguaio não entregou a credencial.
Macedo, que diz ser inocente e alvo de perseguição, está foragido desde o atentado, após romper sua tornozeleira eletrônica e deixar o Distrito Federal.
Até o fim de abril deste ano, conforme ele próprio afirmou em entrevista à Folha de S.Paulo, estava escondido na fazenda de um produtor rural que conheceu no acampamento golpista montado em frente ao quartel-general do Exército na capital federal, após a vitória de Lula nas urnas. "Estou bem isolado, estou longe", disse na época, por telefone.
Macedo ocupou um cargo no governo Jair Bolsonaro (PL), atuando como assessor da então ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos e hoje senadora Damares Alves (Republicanos-DF), de fevereiro a dezembro de 2019, com um salário bruto de R$ 10.373.
Dois anos depois, em 2021, ele foi preso por determinação do ministro Alexandre de Moraes (STF), sob a acusação de incentivar atos antidemocráticos naquele 7 de Setembro.
Deixou a prisão 42 dias depois e passou a ser monitorado por tornozeleira eletrônica, inclusive quando se candidatou a deputado federal pelo PTB de São Paulo em 2022, adotando o slogan de "preso político" — ele teve apenas 1.118 votos.
Na véspera do Natal, dirigiu o carro que transportou a bomba do acampamento bolsonarista até o aeroporto do Brasília, segundo as investigações da Polícia Civil do Distrito Federal.
Macedo não nega que conduzia o veículo, mas diz que não sabia da existência do objeto nem do plano para detoná-lo e alega ser alvo de perseguição do Judiciário.
De acordo com a polícia, o artefato foi preparado pelo empresário George Washington de Oliveira e colocada em um caminhão no aeroporto pelo também bolsonarista Alan Diego dos Santos e Sousa.
Os três se tornaram réus em janeiro, após o Tribunal de Justiça do DF aceitar a denúncia do Ministério Público, e apenas Macedo segue foragido.
À Folha de S.Paulo ele afirmou que no dia do incidente estava no acampamento, gravando vídeos para a produção de um documentário, quando foi procurado por Alan Diego, que lhe pediu uma carona para o aeroporto. Os dois teriam se conhecido dois dias antes, numa barraca onde estavam manifestantes do Pará.
Macedo diz que, ao chegarem nas proximidades do aeroporto, Alan Diego sacou a bomba de uma sacola que estava no banco de trás e, ao se aproximarem do caminhão, pediu que ele reduzisse a velocidade. Com parte do corpo para fora da janela, colocou o artefato sobre um pneu do veículo que estava estacionado, ainda segundo sua versão.
Algum tempo depois, o homem pegou um pequeno controle remoto para detonar o explosivo. Macedo conta que se sentiu intimidado, mas questionou: "Eu disse: 'Cara, por que tu fez isso comigo? Tu nem me conhece. Tu me vê no QG, sabe que eu sou perseguido e me envolve num negócio desse?'". Depois, deixou Alan Diego num hotel em Brasília.
Questionado sobre o porquê de não ter acionado a polícia, ele afirmou que teve medo de ser preso. O alerta foi dado pelo motorista do caminhão, que percebeu que uma caixa havia sido colocada no veículo. A pequena dinamite com temporizador foi retirada pelo esquadrão antibombas, que desativou o artefato ainda no local.
Preso no mesmo dia, o empresário George Washington disse à Polícia Civil que planejou com manifestantes a instalação de explosivos em ao menos dois locais da capital federal dias antes da posse de Lula.
O objetivo seria "dar início ao caos" que levaria à "decretação do estado de sítio no país", o que poderia "provocar a intervenção das Forças Armadas".
Os três suspeitos respondem na Justiça pelo crime de explosão, caracterizado por "expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, mediante explosão, arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos". A pena prevista é de três a seis anos de prisão e multa.
O advogado Aécio de Paula, responsável pela defesa de Macedo, argumentou à Justiça que, em depoimentos, tanto George Washington como Alan Diego isentaram seu cliente da tentativa de atentado.
Também afirmou que Macedo sequer conheceu o empresário bolsonarista que providenciou a bomba. "Não é crime dar carona para alguém. O Ministério Público falhou em não individualizar [as condutas]", afirmou.
Macedo é investigado ainda por suspeita de participar de depredações em Brasília, incluindo uma tentativa de invasão do prédio da Polícia Federal em 12 de dezembro, dia da diplomação de Lula. O blogueiro diz que apenas registrou imagens dos atos de violência e que não defende pautas golpistas. Nas redes sociais, porém, ele fazia chamamentos a protestos e alusões a um possível golpe militar.
Em abril, ele disse que se afastaria da política: "Estou muito cansado, quero focar em minha defesa". Até aparecer na posse presidencial paraguaia.
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