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Governo reduz visibilidade de Mandetta, mas nega demissão

Governo reduz visibilidade de Mandetta, mas nega demissão

Em vez do ministro da Saúde, general Braga Netto ganhou protagonismo na divulgação de dados sobre o coronavírus

Publicado em 30 de março de 2020 às 21:37

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O governo Jair Bolsonaro reduziu nesta segunda-feira (30) a visibilidade do ministro Luiz Henrique Mandetta na divulgação de dados do coronavírus no país, em meio às divergências do discurso do titular da Saúde com a conduta do presidente.

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, elogiou governadores e prefeitos e defendeu isolamento contra coronavírus. Presidente Bolsonaro é contra. (Wilson Dias/Agência Brasil )

O ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, que ganhou protagonismo na apresentação à imprensa, afirmou que não há, no momento, a intenção de demitir Mandetta.

"[Quero] deixar claro para vocês: não existe essa ideia de demissão do ministro Mandetta. Isso está fora da cogitação no momento", disse Braga Netto, militar que é próximo de Bolsonaro.

O titular da Saúde reagiu com ironia. "Vamos lá, em política, quando a gente fala 'não existe', a pessoa já fala 'existe'."

Nesta segunda, ele levou ao Palácio do Planalto a apresentação diária do Ministério da Saúde, que costumava ser longa, técnica e apenas com a cúpula da pasta. Desta vez, a entrevista coletiva reuniu, além de Mandetta e Braga Netto, outros ministros.

Apesar do anúncio do governo de que seriam aceitas oito perguntas, a entrevista foi interrompida depois da quarta, justamente após questionamento sobre as andanças de Bolsonaro no Distrito Federal no dia anterior, contrariando as orientações do ministro da Saúde.

Braga Netto negou que as mudanças no formato da apresentação dos dados tivesse como pano de fundo problemas políticos.

As falas de Mandetta foram repletas de recados a Bolsonaro, antes da interrupção da entrevista. Ele disse, por mais de uma vez, que continuará tendo uma atuação técnica no comando do enfrentamento da crise do coronavírus, que já matou 159 pessoas no Brasil.

"A pasta da Saúde continua técnica, continua científica", afirmou. "A Saúde é um norte, um farol. Enquanto não temos uma resposta mais cientificamente comprovada, a Saúde vai falar 'para e vamos evitar contágio'. Isso não é a Saúde ser boa ou má, estar certa ou estar errada. Isso é nosso instinto de preservação", disse Mandetta.

"A nossa vontade de preservar, o instinto pela vida, é mais forte do que o instinto econômico", prosseguiu o ministro da Saúde. "Enquanto eu estiver nominado, vou trabalhar com a ciência, com a técnica e com o planejamento."

Mandetta atribuiu o tensionamento de sua relação com Bolsonaro ao estresse do enfrentamento ao novo coronavírus.

"Todos nós estamos tentando fazer o melhor pelo povo brasileiro, e o presidente também. Agora, os processos em andamento, as tensões são normais pelo tamanho desta crise", afirmou.

Ele disse, ainda, que não há como se comprometer com um prazo para o período de quarentena. Bolsonaro, por sua vez, já falou em editar um decreto para obrigar o retorno das atividades comerciais.

MINISTRO ELOGIOU GOVERNADORES E PREFEITOS

Em diversos momentos, Mandetta elogiou as medidas de governadores e prefeitos, que têm pedido que a população permaneça em casa.

"No momento deve manter o máximo grau de distanciamento social, para a que a gente possa, nas regras que estão nos estados, dar tempo para que o sistema se consolide na sua expansão", disse.?

"Por enquanto, mantenham as recomendações dos estados porque esta é, no momento, a medida mais recomendável, já que temos muitas fragilidades ainda no sistema de saúde, que são típicas não de faltas do Ministério da Saúde ou do governo", disse Mandetta.

DESCULPAS À IMPRENSA

Ele também pediu desculpas pelas críticas que fez à imprensa no sábado (28) e elogiou a TV Globo, constante alvo de ataques do presidente da República.

ENQUANTO ISSO, BOLSONARO FALAVA O CONTRÁRIO

Bolsonaro, enquanto isso, em entrevista à RedeTV!, reforçava na tarde desta segunda sua defensa anticonfinamento.

"[A restrição] tem que ser afrouxada alguma coisa, paulatinamente, para que o desemprego não aumente mais ainda no Brasil. E repito, os danos do desemprego vai ser muito maior do que o vírus", afirmou.

Na disputa entre privilegiar a economia, como defende Bolsonaro, ou a saúde, Mandetta, em determinado momento, falou do trabalho para garantir um estoque nacional de leitos e insumos. "Para que a gente possa analisar as condicionantes do sistema de saúde para, na hora certa, podermos dar um passo a frente em relação à economia", completou.

Tanto no domingo, durante o passeio, como nesta segunda-feira, ao deixar o Palácio da Alvorada, Bolsonaro teve que ouvir de apoiadores pedidos para que mantivesse Mandetta. Nas duas ocasiões, preferiu não responder.

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