O agora notório grupo "300 do Brasil", mobilizado no Distrito Federal a favor do presidente Jair Bolsonaro, diz que não defende intervenção militar, como outros movimentos presentes nos protestos antidemocráticos recentes, mas sim uma intervenção popular.
O comando do movimento reconhece que parte de seus membros estão armados, embora faça a ressalva de que as armas seriam usadas apenas para defender os membros no acampamento, e não nas atividades de militância.
Os 300 do Brasil ganharam notoriedade recentemente, ao anunciarem um grande acampamento para treinar militantes dispostos a defender o governo de Jair Bolsonaro. "Em nosso grupo, existem membros que são CACs [Colecionador, Atirador e Caçador] outros possuem armas devidamente registradas nos órgãos competentes. Essas armas servem apenas para a proteção dos próprios membros do acampamento e não têm a ver com nossa militância", afirmou a líder Sara Winter, 27, em entrevista por escrito à reportagem.
O grupo manteve uma aura de guerrilha, informando que as atividades se dariam em um QG secreto, para onde os membros não poderiam levar telefones celulares. Os militantes receberiam treinamento em "revolução não-violenta e desobediência civil", além de conhecerem técnicas de "estratégia, inteligência e investigação". Em postagens nas redes sociais, seus líderes falavam em "ucranizar o Brasil", em referência ao movimento armado que derrubou o governo da Ucrânia, em 2014.
Como a "Folha de S.Paulo" mostrou na semana passada, alguns de seus líderes são ou foram assessores de políticos bolsonaristas, como a deputada Bia Kicis (PSL-DF) e a ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos).
Em uma vaquinha online para levantar fundos, o grupo havia arrecadado R$ 70 mil até a tarde desta terça-feira (12).
Um dos acampamentos visíveis do grupo, em frente ao estádio nacional Mané Garrincha, durou cerca de dez dias e acabou desmantelado pelas autoridades de segurança do Distrito Federal na semana passada. O grupo também passou a ser investigado pela Procuradoria-Geral da República, no âmbito do inquérito instaurado no fim de abril para apurar as recentes manifestações antidemocráticas.
Os participantes, no entanto, refutam o suposto caráter violento ou mesmo o rótulo de milícia armada. "Absolutamente nenhum dos integrantes dos 300 do Brasil fala sobre milícia armada, muito menos sobre invadir o Congresso ou o STF. A imprensa tem se mostrado extremamente amadora na checagem dos fatos", disse a líder Sara Winter.
Winter, cujo verdadeiro nome é Sara Fernanda Giromini, afirma que há na capital federal mais de 40 movimentos de direita, sendo que alguns deles defendem a intervenção militar. "Nós dos 300 não acreditamos em intervenção militar, mas sim em intervenção popular, ou seja, a ideia de que todo o poder emana do povo, como prevê o artigo 1º da Constituição Nacional, e que através de métodos de ação não violenta, como a desobediência civil, podemos ser [o povo] a classe soberana no país", afirma.
No protesto do último sábado (9), após a notícia de investigação por parte da PGR, Winter exaltou algumas vezes no carro de som do grupo que era contra intervenção militar. Ela também fez um jogo de palavras com a palavra "paramilitar", afirmando que o movimento era para militar, para mães, para professores.
Os líderes afirmam que o grupo conta atualmente com 700 membros, em diversas partes do Brasil. Os objetivos dos 300 do Brasil misturam pontos legítimos, como o resgate da soberania nacional, o respeito à repartição de poderes, a plena execução do pacto federativo, com outros mais polêmicos, como a criminalização do comunismo.
Novamente descartando um suposto caráter violento, a líder do grupo afirma que a atuação é apenas performática e com base na desobediência civil e métodos de ação não violenta. "Nosso objetivo é humilhar e desmoralizar personalidades políticas que se opõem ao bom e pleno desenvolvimento da nação", disse a líder Sara Winter. "Entendemos que o primeiro passo para se derrubar um ditador é envergonhá-lo diante da população, tirando sua autoridade", completou.
Ainda no protesto de sábado, o grupo exibiu um grande cartaz com fotos de personalidades que se tornaram alvo dos bolsonaristas, como o ex-ministro Sérgio Moro, os deputados Joice Hasselman (PSL) e Rodrigo Maia (DEM) e o ministro do STF Alexandre de Moraes. Depois houve um tiro ao alvo contra as imagens, com balões cheio de água.
Em relação aos próximos passos, o 300 do Brasil afirma que vai manter ações coordenadas para pressionar o presidente da Câmara dos Deputados e o STF, além de realizar por volta de dois grandes treinamentos por mês. Um deles, afirma Winter, será no próximo dia 16. O anterior, ela relata, teve 150 participantes.
O grupo não divulga muitos detalhes dos cursos e os nomes de todos os palestrantes. Dentre os que ela afirma que pode citar, estão instrução de investigação e inteligência, de geopolítica e estratégia, e métodos não violentos e desobediência civil - esse último ministrado pela própria Winter.
"É uma forma de garantir que nossos militantes não irão agir com amadorismo e improviso, mas sim com ordem, disciplina e hierarquia, inclusive, sacrificando sua vida pessoal se for preciso", disse a líder do grupo.
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