Publicado em 26 de abril de 2020 às 17:23
Os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), adotaram o silêncio como estratégia durante o embate entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-ministro da Justiça Sergio Moro como forma de evitar atrair para si ataques da base bolsonarista.>
Maia vinha sendo particularmente atacado após a entrevista concedida por Bolsonaro à CNN Brasil em que o presidente acusou o deputado de conspirar contra seu governo e de ter "péssima atuação" no Legislativo.>
Ainda assim, antes da saída de Moro, o presidente da Câmara enviou sinais ao Palácio do Planalto de que queria manter um diálogo em nível institucional com Bolsonaro.>
Em conversas com líderes partidários, Maia disse que não pretendia alimentar as discussões com o chefe do Executivo. Mas o deputado queria que Bolsonaro parasse de atacá-lo.>
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Assim, aliados do deputado entraram em contato com o ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) para que organizasse um encontro.>
Maia sugeriu também que o ministro Walter Braga Netto (Casa Civil) participasse da reunião.>
Ramos, então, tentou viabilizar o encontro. Quando fez a proposta a Bolsonaro, porém, o presidente descartou a ideia e afirmou que era melhor esperar.>
A avaliação de aliados de Maia e de integrantes do DEM é que o deputado errou na condução de sua relação com Bolsonaro.>
Eles citam especificamente o atrito provocado pela decisão do presidente da Câmara de acelerar a votação do projeto de socorro a estados e municípios para recompor perdas de arrecadação provocadas pela crise da Covid-19.>
Maia decidiu não negociar a proposta nem com governo nem com o Senado, no que foi bombardeado por ambos --o texto está parado com os senadores, que tentam costurar um projeto que concilie os interesses dos entes federados e os da equipe do ministro Paulo Guedes (Economia).>
Mesmo na Câmara o texto já havia travado, por causa de um dispositivo --que foi retirado da versão aprovada na Casa-- que beneficiaria o Rio de Janeiro.>
O texto excluído anistiaria o pagamento de valores devidos por estados em crise. O impacto da renúncia era estimado em cerca de R$ 15 bilhões, segundo a equipe econômica.>
Para evitar que as mudanças introduzidas ao texto no Senado fossem derrubadas quando o projeto voltasse à Câmara, Alcolumbre e Maia conversaram sobre o tema na semana passada.>
Diante da falta de interlocução com o governo e por causa dos ataques das redes bolsonaristas, Maia optou pelo silêncio e evitou manifestações públicas ao longo da última semana inteira.>
Não comentou, por exemplo, acusações do presidente do PTB, Roberto Jefferson, de que Maia estaria preparando um golpe contra Bolsonaro.>
Também não se pronunciou sobre a determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal Celso de Mello para que se manifeste sobre os pedidos de impeachment já protocolados contra Bolsonaro.>
Além disso, Maia abandonou as rotineiras entrevistas coletivas que costuma conceder ao chegar à Câmara. Ele ainda cancelou participação em duas videoconferências.>
Gpós a confirmação da saída de Moro, o presidente da Câmara passou a última sexta-feira (24) analisando se valia a pena mudar o posicionamento e se pronunciar sobre o tema.>
Alcolumbre, que manteve sua costumeira postura mais reservada, também pesou os prós e contras de fazer uma manifestação pública sobre a demissão de Sergio Moro.>
Ambos decidiram acompanhar o pronunciamento de Bolsonaro antes de tomar uma decisão. Se o Congresso fosse atacado, haveria resposta, proporcional à agressão do Executivo.>
Os dois presidentes avaliaram, no entanto, que a declaração de Bolsonaro foi ruim.>
Maia viu uma chance de se manter em silêncio, evitando alimentar os ataques da militância digital bolsonarista de que era alvo.>
Desta forma, a polarização continuaria entre os defensores de Moro e os apoiadores de Bolsonaro.>
Ao evitar também falar publicamente em impeachment, Maia e Alcolumbre avaliam que frustram o presidente, que construiu uma narrativa de que há um golpe em curso contra sua gestão.>
Quando se colocam em segundo plano e deixam o embate apenas entre Moro e Bolsonaro, além de evitar ataques da rede bolsonarista, eles apostam num segundo efeito: na fragmentação dessa base, formada por muitos defensores da Operação Lava Jato.>
Apesar de silenciarem publicamente, Maia enviou privadamente uma mensagem de apoio a Moro, enquanto Alcolumbre ligou para o ex-ministro na própria sexta-feira.>
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