O cardiologista Roberto Kalil, do hospital Sírio-Libanês, tomou cloroquina em seu tratamento contra o coronavírus mesmo com a discordância de um de seus médicos, Carlos Carvalho, da mesma instituição.
O pneumologista diz que Kalil perguntou se deveria incorporar a cloroquina e ele respondeu que não concorda do uso do remédio para isso no momento, mas que não se oporia ao colega. "Cientificamente, estou certo de que ainda não há estudos que comprovem a eficácia da cloroquina", diz Carvalho.
"Não há como dizer que foi a cloroquina que ajudou o Kalil. Ele tomou outros remédios além dela", completa. "Eu mesmo tive coronavírus, tomei Novalgina e outros remédios e estou curado. Vou dizer que a Novalgina cura coronavírus?"
Carvalho, 66, faz parte de grupo de risco, foi contaminado pelo coronavírus e curou-se sem cloroquina. "Se amanhã os estudos mostrarem que a cloroquina é eficaz, vou receitar aos pacientes. Por enquanto nada disso foi apresentado", afirma.
Mas ele ressalta que existe também o lado emocional, e então ele tem conversado com pacientes caso a caso para decidir se aplica ou não a cloroquina. Ele diz que não acha arriscado o uso da substância, já que os efeitos colaterais são pequenos.
Nesta quarta-feira (8), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) saudou Kalil em seu pronunciamento, pela decisão de ter declarado que se tratou com cloroquina e por dizer que está usando o remédio em seus pacientes.
À reportagem Carvalho disse que não viu o pronunciamento. Informado de que o presidente disse que a decisão de Kalil poderia salvar milhares de vidas, ele disse não saber se procede.
"Não sei dizer. Não digo que está errado quem prescreve. Mas acho que ainda não temos estudos científicos o suficiente para receitar cloroquina para todo mundo", diz.
"Você pode gerar uma situação em que a pessoa contaminada com coronavírus acha que tem que conseguir cloroquina e, se não conseguir, fica desesperada, quando ainda não é certo que esse é o método eficaz", conclui.
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