Partidos de oposição enviaram nesta terça-feira (23) uma carta ao embaixador americano no Brasil, Todd Chapman, em que pedem esclarecimentos sobre a entrada nos Estados Unidos do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, indicado a um cargo na diretoria do Banco Mundial.
O documento, assinado por 72 deputados, solicita ainda que a embaixada americana e o Departamento de Estado americano digam sob qual status Weintraub permanece nos EUA, considerando que ele não representa o governo brasileiro ou qualquer órgão internacional.
Ministros de Estado têm direito a passaporte diplomático, e Weintraub foi beneficiado com o documento em julho de 2019, segundo informações do Ministério das Relações Exteriores. Não há informação oficial se ele fez uso desse passaporte e se viajou com a família.
Ao deixar o Ministério da Educação (MEC), Weintraub disse ter recebido um convite, referendado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), para ser o diretor representante do Brasil e de outros oito países no Banco Mundial, instituição multilateral de fomento ao desenvolvimento com sede em Washington.
O salário anual previsto é de US$ 258.570, o equivalente hoje a R$ 115,8 mil por mês sem 13º, ou mais de três vezes o salário atual do ministro, de R$ 31 mil.
Na carta a Chapman, a oposição levanta dúvidas sobre a indicação. "Weintraub deixou seu cargo às pressas, aparentemente para assumir um cargo no Banco Mundial cuja nomeação oficial ainda está pendente", escrevem os parlamentares.
Os deputados dizem ainda que, por causa da restrição de entrada nos EUA de cidadãos não-americanos que tenham estado no Brasil nos 14 dias anteriores, pelo momento da exoneração de Weintraub e a "pressa do governo" para mudar a data da saída no Diário Oficial, são "levados a crer que Weintraub entrou nos Estados Unidos da América com um passaporte e visto diplomático."
Também levantam a possibilidade de o ex-ministro ter viajado aos EUA para evitar o inquérito das fake news no Supremo Tribunal Federal (STF). Weintraub também é alvo de uma investigação no tribunal por racismo por ter publicado um comentário sobre a China.
"Ficamos preocupados que Abraham Weintraub tenha sido admitido nos Estados Unidos sob falsas pretensões para se esquivar do inquérito sobre suas ações e que agora ele resida nos EUA fora do status regular", dizem os deputados.
Weintraub viajou na sexta-feira (19) para Miami e já se encontrava nos EUA na manhã de sábado (20), horas antes de a exoneração ser oficializada no Diário Oficial da União. Nesta terça, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) retificou a data de demissão do ex-ministro e estabeleceu que a exoneração passou a valer na sexta-feira.
Nesta terça, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ironizou a saída rápida do ex-ministro.
"Eu não entendi por que...ele tava fugindo de alguém? Estranho, não é? Vai ser a primeira vez na história que alguém diz que está exilado e tem o apoio do governo, né?", disse. "Geralmente é o contrário. As pessoas fogem porque estão sendo perseguidas por um governo."
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